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terça-feira, 1 de maio de 2012

Primeiro de Maio




Amanhece primeiro de maio com semblante gélido e uma chuva fina que invade a alma.  O vento corre pelas ruas, acordando as curvas e encruzilhadas... Tantas e tantas há muito desgraçadas. O vendaval grita sua dor de saudade. Saudade da relva rasteira, das flores vibrantes, das árvores de copas dançantes que lhe usurparam.
As nuvens baixam, precipitam-se brumas cinzentas que entram na gente mostrando as correntes da devastação.
Ah, solidão é rede das mais resistentes e que arrasta a gente quilômetros em vão.
Primeiro de maio carrega histórias... Tantas esperanças depositadas nos ombros da labuta, na crença de um futuro melhor...  Progresso distante...
A nobreza da alma à custa do sacrifício do corpo. A riqueza guardada a sete chaves espalha miséria nos quatro cantos do mundo.
Trabalho diurno, trabalho noturno, trabalho na fábrica, trabalho nas ruas, trabalho em casa. Jornadas multiplicadas. 
O transporte, enlatado, já amassa a massa que entra de supetão... Já pulsa o relógio que malha o pão. A vida se esvai no tempo apressado que abre a ferida da desilusão.
Aguenta peão! Há tarifas nos portões do amanhã. Olhe, já te cobram a partida! “Tempo é dinheiro”: tempo de vida, tempo de lida.
E na obra suada pelas migalhas de então, trabalha Maria, trabalha João!

Luzia M. Cardoso
RJ, 1º de Maio de 2012