Assistimos, indignados, às notícias da
cidade de Duque de Caxias submersa em lixo. O lixo nosso de cada dia. O lixo
exposto nas ruas, amontoados nas calçadas e não coletados pela prefeitura. O
lixo que se espalha, que fede, que atrai ratos, mosquitos, baratas, entre
outros. O lixo ao fogo e que, ao vento, também queima o rosto de uma criança. O
lixo de Duque de Caxias.
Mas a questão do lixo não se
restringe à cidade de Duque de Caxias, pois em várias ruas do país tropeçamos
em sacos de lixo. Aquilo que dispensamos e que, por não suportarmos guardar em
casa, depositamos do lado de fora, alguns em latões, outros em sacos, mas do
lado de fora. Muitas vezes sem nos importarmos com a data e o horário da
coleta.
Nosso lixo de todo dia. E juntamos
latas, papeis, cascas, restos de comidas, vidros, isopor, garrafas, roupas
velhas, brinquedos, pilhas etc., etc. Tudo junto num mesmo saco plástico,
tantas vezes mal fechados.
Mas esse
nosso lixo também é fonte de renda para a subsistência de tanta gente. Gente que
garimpa de sol a sol, a pé, carregando nos ombros tudo o que nem sequer
conseguimos organizar seletivamente para jogar fora. E por nossa
desorganização, os trabalhadores de coleta seletiva acabam rasgando os frágeis
sacos que largamos do lado de fora de nossas casas, contribuindo para espalhar
ao vento, nas ruas, os nossos cheiros, os nossos restos, os nossos trapos, as
nossas mazelas.
E nós nem enxergamos esses
trabalhadores. Como se a fuligem os tornasse invisíveis. Tampouco percebemos que
o seu trabalho é de utilidade pública. Todos os coletadores de materiais
recicláveis somente são notados quando cruzam o nosso caminho com os sacos nas
costas, ou quando puxam um burro sem rabo disputando as ruas com os carros de
passeio, com os taxis, vans e ônibus, ou quando desmaiam de fadiga e fome nas calçadas,
em meio ao lixo que descartamos.
E tudo poderia ser tão mais simples
se as autoridades dessem a infraestrutura para o trabalho dos coletadores de
materiais recicláveis, cadastrando todos, fornecendo-lhes uma bicicleta cargueira,
equipamentos de segurança como luvas, uniforme, tênis, boné. Seria tão mais evoluído
se nós, cidadãos, organizássemos nosso lixo seletivamente, identificando os
sacos com o tipo de material, se conhecêssemos os trabalhadores que vivem da
coleta e se entregássemos aos mesmos o nosso lixo seletivamente ensacado.
Infelizmente, a importância que damos
ao nosso próprio umbigo nos impede de fazermos assim, por isso, juntamos o que
descartamos de qualquer forma e nos livramos de tudo, na primeira esquina, na
primeira calçada, na primeira rua.
Luzia M. Cardoso
RJ, 28 de dezembro de 2012