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sábado, 28 de janeiro de 2012

Reintegração de Posse





O desalojamento que ocorreu na comunidade do Pinheirinho, em São Paulo, essa semana, foi algo de causar indignação. Há cerca de oito anos atrás, pessoas, famílias, excluídas do direito à habitação, diante de um terreno sem uso, às moscas, construíram sua humildes residências. Criaram uma comunidade, tentando garantir, com a luta de cada dia e com o suor do rosto, o chão, o teto e o pão de sua prole. E agora, a justiça de São Paulo, defendendo interesses individuais, o direito à propriedade privada, em detrimento da necessidade de uma coletividade,  despejou todos os que ali estavam, utilizando aparato policial para remover crianças, adolescentes, idosos, deficientes, além de tantos outros adultos que, juntos e ali, criaram uma história, formaram famílias.

Alguns, certamente, dirão que se havia um proprietário do terreno, ninguém poderia ocupá-lo, pois o direito do mesmo deveria ter sido respeitado. Sim, o direito à propriedade, no sistema capitalista, deve ser respeitado, mas e os direitos sociais e humanos não? O que deverá ter prioridade, a vida de uma comunidade ou a riqueza de um indivíduo?

Não consigo entender essa dicotomia dentro do próprio Estado. Os níveis de governo não se entendem, não caminham juntos para o bem-estar da sociedade. Dentro de um mesmo nível de governo, as Secretarias não se comunicam. Mesmo respeitando os direitos à propriedade privada, que é um dos pilares do sistema capitalista, haveria de se planejar a ação, buscando atender os direitos humanos e sociais, de forma que, ao mesmo tempo em que se devolvesse ao proprietário o que lhe é de direito, garantisse, por meio da política de Habitação e de Assistência Social, o direito à moradia digna às famílias envolvidas.

E foi pensando na comunidade do Pinheirinho que comecei a refletir e escrevi o poema cujo acesso está no link abaixo


http://evivendoquesevive.blogspot.com/2012/01/reintegracao-de-posse.html

domingo, 22 de janeiro de 2012

Praça




Praça


         Não, não falarei agora de nenhum amigo meu... Grande camarada... Embora a saudade me aperte... Nem tampouco do raso soldado desta pátria, com suas vestes brancas, azuis ou verde-oliva, formado no compasso do refrão, com o futuro fora do alcance da visão.
         Se pensas que descreverei aquela nossa praça... O largo no meio às ruas convergentes, que no passado juntava tanta gente... Os anciãos, livros de tantas memórias... A juventude que escrevia a própria história... Ah, e tantas crianças com bonecas e piões... E quantas dobras palpitavam corações, vincando bilhetes que prometiam emoções... Tinha coreto, jornal do dia, algodão doce... E as pipocas que estouravam entre olhares e acenos das janelas, abrandando almas que caminhavam solitárias... Daquela praça, sopra-me a brisa fresca que chega sorrindo nas lembranças que me afagam... 
          Não, não é desta praça que falo, pois a praça que hoje vejo é sutil, brilhante e muito mais ampla... Do largo do passado trouxe as frestas... Nem sempre estou à toa quando abro minha janela e vejo circo, bandas, procissões e funerais... E ali no meio, vibro e sinto com o que passa por ela.
      A praça de que falo herdou os bancos, embora presos entre quatro paredes. Privados, não se expõem ao tempo... Não brilham mais com a aura do luar e não queimam, não têm o calor da luz solar. E essa praça é tão real e diferente... As novidades borbulhando em muitas mentes adolescentes que questionam o adulto que apresenta a SOPA (Stop Online Piracy Act), olhando desconfiados para a PIPA (Project IP ACT) que ameaça o espaço.
      Nessa praça correm notícias... E nisso, mantém a natureza da de antes, que hoje agoniza deserta, vazia e sem poesia... Na nova praça há também rodas distintas: tem as de papo-cabeça; as do buraco e biriba; os games despertando adrenalina e muitas risadas da garotada... Ahhh, e tantos flertes e paixões, em matizes que disparam corações... E alguns amantes, como outrora, que na calada da noite, correm furtivos, ocultos... Vão buscar outros prazeres, pulando janelas... E na praça, os mesmos riscos daquela velha língua de Matilde.
       Mas se toda praça é terreno de litígios e comunhão, a de hoje não limita a dimensão... Não tem fronteiras em nenhuma direção e nas janelas, debruça gente de tantas nações. E se exagero terminando o texto em “ão”, muito antes de à nova era eu estar dizendo não, nas entrelinhas, uma questão... 

Luzia M. Cardoso
Rio de Janeiro

Siglas:

PIPA: Project IP ACT - Ato para Proteção da Propriedade Intelectual.

SOPA: Stop Online Piracy Act - Lei de Combate à Pirataria Online.