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sábado, 20 de julho de 2013

Vândalos


   Vândalos
                                                                                              Por Luzia M. Cardoso

Vândalos

A palavra vem do mundo antigo, uma tribo germânica que atacava o Império Romano. Seriam vândalos então todas as tribos que não estivessem sob o domínio do imperador.

 Vândalos

Um termo que vem da época dos grandes impérios, mais precisamente da época do Império Romano, cujos imperadores se esbaldavam em suas riquezas, em orgias, nomeando cavalo para cargo políticos enquanto cobravam altos tributos dos cidadãos romanos, escravizavam povos, exterminavam multidões e cobiçavam conquistar novas áreas.

Vândalos

A palavra caminha pela história associando-se não aos imperadores, mas aos povos bárbaros que resistiam com invasões e lutas contra determinados domínios, deixando cair vários símbolos do Império Romano. E por isso o termo vândalo passou a ser associado àqueles que destroem patrimônios e bens.

Vândalos

O termo atravessa os séculos, chega ao portal do Século XXI, dos tempos tão aguardados – A Era de Aquarius.

Vândalos

Se protegem com capuz e toucas que lhes encobrem os rostos, e carregam pedras portuguesas, frascos de vinagre e rojões de festejos juninos para resistirem aos caveirões, bombas de gás lacrimogêneos, spray de pimenta, jatos de água e outras armas mais letais presas às cinturas dos fortes homens do Estado, devidamente treinados, fardados, armados e protegidos com capacetes, toucas, escudos, coletes à prova de balas etc. Os primeiros, seguem a pé, os segundos de motos, carros blindados e helicópteros.

Vândalos

Mascarados que se protegem das brumas que não produzem nenhum efeito moral naqueles que esbanjam a verba pública, promovendo o maior esculacho em seus eleitores.

Vândalos

Jovens da atualidade agora são assim classificados quando ocupam as ruas das cidades brasileiras para denunciarem o desvio do bem público para contas privadas, a destruição do patrimônio natural e humano, esgotados pela super-exploração que promove hemorragias em nossas fontes.

Vândalos

Conectados que se juntam nas redes virtuais e materiais, nas malhas viárias, espalhando fotos e vídeos que denunciam a truculência do Estado.

Vândalos

Novos imperadores vão e voltam, diariamente, de helicópteros, pelos bairros da cidade e para a região litorânea levando os seus animais de estimação, seus parentes, amigos e festejos, enquanto põem abaixo museus, escolas, casas, todo o sistema de educação e saúde, fazendo da cidade um imenso canteiro de obra, deixando famílias à míngua com os prejuízos que lhes acarretam.  Vão e voltam de aviões e gargalham com os alvos guardanapos franceses ao sabor das borbulhas que lhes sobem à cabeça.

Vândalos

Endinheirados, em carros blindados, vivendo em mansões, fazendo de nosso suado dinheiro aviõezinhos de papel debochando da multidão, com óculos de lentes escuras para não verem o povo que agoniza nas pedras que margeiam os lugares onde deixam os seus sofisticados carros.

Vândalos

O povo que obtém como resposta do poder público às denúncias que fazem -  com cantos, gritos, palavras de ordem, ocupações e cartazes - bombas de gás lacrimogêneo, balas de borrachas, spray de pimenta, perseguições pelas ruas de nossas metrópoles, e mensagens que soltam suas entrelinhas e revelam o desejo de endurecem mais nas formas de repressão.

Vândalos

Aqueles que não levam sequer uma maria-sem-vergonha, que insiste em nascer nos canteiros do Leblon, para os túmulos de centenas de pessoas que morrem nas periferias desse luxuoso bairro, mas distribuem rosas brancas em suas ruas reluzentes, solidários com as vitrines cobertas por seguros, e que se quebraram ao impacto de pedras portuguesas. Aqueles que mostram a sua tristeza frente às imagens de bonecos queimados nas fogueiras que foram acesas e espalhadas pelas brasas e pelos ventos da ganância da burguesia brasileira.

Vândalos

Tentam passar pelo estreito gargalo do processo de seleção para acessarem as poucas vagas ofertadas no ensino público de nível médio e superior, mas que acabam empurrados para as largas portas do mercado privado, que lhes entregam mercadorias de qualidade questionável.

Vândalos

            Vendem habitações aos setores médios, cobrando por m² construído mais de R$ 5.000,00, afastando-os das áreas das elites e compensando-os com rasas piscinas e churrasqueiras, ao mesmo tempo em que empurram os segmentos mais pobres da sociedade para periferias cada vez mais distantes dos centros onde irão ofertar a sua força de trabalho.

Vândalos

Então, que todos nós gritemos juntos: basta de vandalismo!!!!!!