Vândalos
Por
Luzia M. Cardoso
Vândalos
A
palavra vem do mundo antigo, uma tribo germânica que atacava o Império Romano.
Seriam vândalos então todas as tribos que não estivessem sob o domínio do imperador.
Vândalos
Um
termo que vem da época dos grandes impérios, mais precisamente da época do
Império Romano, cujos imperadores se esbaldavam em suas riquezas, em orgias,
nomeando cavalo para cargo políticos enquanto cobravam altos tributos dos
cidadãos romanos, escravizavam povos, exterminavam multidões e cobiçavam
conquistar novas áreas.
Vândalos
A
palavra caminha pela história associando-se não aos imperadores, mas aos povos
bárbaros que resistiam com invasões e lutas contra determinados domínios, deixando
cair vários símbolos do Império Romano. E por isso o termo vândalo passou a ser
associado àqueles que destroem patrimônios e bens.
Vândalos
O
termo atravessa os séculos, chega ao portal do Século XXI, dos tempos tão
aguardados – A Era de Aquarius.
Vândalos
Se
protegem com capuz e toucas que lhes encobrem os rostos, e carregam pedras
portuguesas, frascos de vinagre e rojões de festejos juninos para resistirem
aos caveirões, bombas de gás lacrimogêneos, spray de pimenta, jatos de água e
outras armas mais letais presas às cinturas dos fortes homens do Estado,
devidamente treinados, fardados, armados e protegidos com capacetes, toucas,
escudos, coletes à prova de balas etc. Os primeiros, seguem a pé, os segundos
de motos, carros blindados e helicópteros.
Vândalos
Mascarados
que se protegem das brumas que não produzem nenhum efeito moral naqueles que
esbanjam a verba pública, promovendo o maior esculacho em seus eleitores.
Vândalos
Jovens
da atualidade agora são assim classificados quando ocupam as ruas das cidades
brasileiras para denunciarem o desvio do bem público para contas privadas, a
destruição do patrimônio natural e humano, esgotados pela super-exploração que
promove hemorragias em nossas fontes.
Vândalos
Conectados
que se juntam nas redes virtuais e materiais, nas malhas viárias, espalhando
fotos e vídeos que denunciam a truculência do Estado.
Vândalos
Novos
imperadores vão e voltam, diariamente, de helicópteros, pelos bairros da cidade
e para a região litorânea levando os seus animais de estimação, seus parentes,
amigos e festejos, enquanto põem abaixo museus, escolas, casas, todo o sistema
de educação e saúde, fazendo da cidade um imenso canteiro de obra, deixando famílias
à míngua com os prejuízos que lhes acarretam.
Vão e voltam de aviões e gargalham com os alvos guardanapos franceses ao
sabor das borbulhas que lhes sobem à cabeça.
Vândalos
Endinheirados,
em carros blindados, vivendo em mansões, fazendo de nosso suado dinheiro
aviõezinhos de papel debochando da multidão, com óculos de lentes escuras para
não verem o povo que agoniza nas pedras que margeiam os lugares onde deixam os
seus sofisticados carros.
Vândalos
O
povo que obtém como resposta do poder público às denúncias que fazem - com cantos, gritos, palavras de ordem,
ocupações e cartazes - bombas de gás lacrimogêneo, balas de borrachas, spray de
pimenta, perseguições pelas ruas de nossas metrópoles, e mensagens que soltam
suas entrelinhas e revelam o desejo de endurecem mais nas formas de repressão.
Vândalos
Aqueles
que não levam sequer uma maria-sem-vergonha, que insiste em nascer nos
canteiros do Leblon, para os túmulos de centenas de pessoas que morrem nas
periferias desse luxuoso bairro, mas distribuem rosas brancas em suas ruas
reluzentes, solidários com as vitrines cobertas por seguros, e que se quebraram
ao impacto de pedras portuguesas. Aqueles que mostram a sua tristeza frente às
imagens de bonecos queimados nas fogueiras que foram acesas e espalhadas pelas
brasas e pelos ventos da ganância da burguesia brasileira.
Vândalos
Tentam
passar pelo estreito gargalo do processo de seleção para acessarem as poucas
vagas ofertadas no ensino público de nível médio e superior, mas que acabam
empurrados para as largas portas do mercado privado, que lhes entregam
mercadorias de qualidade questionável.
Vândalos
Vendem habitações aos setores
médios, cobrando por m² construído mais de R$ 5.000,00, afastando-os das áreas
das elites e compensando-os com rasas piscinas e churrasqueiras, ao mesmo tempo
em que empurram os segmentos mais pobres da sociedade para periferias cada vez
mais distantes dos centros onde irão ofertar a sua força de trabalho.
Vândalos
Então,
que todos nós gritemos juntos: basta de vandalismo!!!!!!