Ano passado eu me vi às voltas com a busca por um presente para mamãe. Foi o presente mais difícil de encontrar em todo os meus 62 anos.
Na iminência da grande partida de mamãe, o que eu poderia dar e que ela pudesse levar consigo?
Não me senti satisfeita. Não tinha certeza que mamãe conseguiria levar com ela quando o seu trem chegasse.
Naquele Dia das Mães de 2023, antes de ir para a sua casa, passei na feira, como faço aos domingos. Na esquina da rua tinha uma kombi vendendo bichinhos e bonecos de feltro. Quando vi aquele coração rosa cheio de abraços e beijos, não tive dúvidas: aquele era o presente que ela levaria consigo para a eternidade.
Aquele coração repleto de abraços, beijos e um eloquente "te amo" desde aquele Dia das Mães de 2023 sempre esteve com mamãe.
No dia 26 de setembro, na hora de mamãe embarcar, coloquei o coração próximo ao seu peito, antes de fecharem a porta de sua cabine repleta de rosas brancas.
Hoje, ao ir à feira, vi um coração semelhante, contudo, vermelho. Não o trouxe comigo. Ele chorava muito. Havia outros iguais a ele, todos vermelhos e em lágrimas. Assim, acreditei que ali, acompanhado, ele teria mais conforto.
Um coração que chora não deve ficar confinado. Ao ar livre e sob o sol, terá os afagos do tempo que também saberá enxugar e cuidar de suas lágrimas.
Luzia M. Cardoso
12/05/2024