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sábado, 16 de junho de 2012

Rio de Janeiro de quantos?





Óculos da estátua de Drummond = R$ 3.000,00 X 8 = R$ 24.000,00
Estimativa da Rio +20 para os cofres públicos = Mais de R$ 100.000.000,00
Orçamento da reforma do Maracanã = R$ 808.004.000,00
Obras para a Copa e as Olimpíadas + $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$

E a Saúde e a Educação...


Fonte de consulta:


Portal da Copa. Site do Governo Federal: http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/obra-de-reforma-do-maracana-chega-56

Veja Rio de 21 de maio de 2012: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/rio-20-deve-custar-mais-de-r-100-mi-aos-cofres-publicos

Jornal do Brasil\ Rio de 2011: http://www.jb.com.br/rio/noticias/2009/12/28/drummond-de-oculos-novos/

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Linha Saracuruna. Estação Bonsucesso: Do público ao privado, a concessão





As linhas que separam o público do privado ficam invisíveis quando o segundo adquire a concessão de administrar o primeiro. Propriedade privada e patrimônio público, o que pertence a um e o que pertence a todos. Essa é uma grande questão.

Hoje, um pouco antes de iniciar o meu trabalho, fui conhecer a estação do teleférico do Morro do Alemão, em Bonsucesso, Rio de Janeiro. Entraria no trabalho as 8:00h e cheguei as 7:20h. Tinha tempo. Não para atravessar os 3,5 Km integrados pelos cabos do teleférico do Complexo do Alemão, mas somente para conhecer a estação de Bonsucesso.

Não tive dúvidas e dirigi-me para lá. Desci a Av. Paris, atravessei a Rua Leopoldo Bulhões, para subir à escada que é comum tanto para a estação ferroviária, da Linha Saracuruna, quanto para o recém-criado teleférico.







Não consegui subir de imediato. A hora era do rush e uma massa humana descia aqueles degraus. Precisei deixar a corrente abrandar. Em menos de cinco minutos já conseguia subir na contramão da correnteza. Ao entrar tive uma boa surpresa com a limpeza, boa manutenção e iluminação, escadas rolantes e elevadores para o patamar seguinte, que dá acesso ao teleférico. Verifiquei que o bilhete para o teleférico custava R$ 1,00.  

Resolvi caminhar pelo andar de acesso à estação ferroviária e deparei-me com três painéis lindíssimos, feitos na parede, em mosaicos coloridos. Um indicando o nome da estação “Bonsucesso”, com desenhos retratando as pessoas na comunidade.




Outro com a legenda “Todos Juntos” com desenhos de pessoas de várias cores, tamanhos, adultos, crianças, cadeirantes e que juntos formam o desenho de um morro.



O terceiro era uma baiana estilizada, lembrando a Carmem Miranda e era o único que estava assinado por Romero Brito. 



Todos os painéis em cores intensas. Havia também um belo quadro com desenho estilizado dos caminhos dos cabos do bondinho subindo para outra estação do Complexo Alemão. 



Segundo as pesquisas que fiz na Internet, os painéis foram feitos com a participação dos moradores.

As paredes externas em vidro permitem a vista para a Praça das Nações, de um lado, e do outro, para a via férrea, com o movimento do teleférico ao alto. Uma bela vista.



Feliz da vida, e com um imenso prazer com tudo o que via, peguei o meu celular e comecei a fotografar. Em seguida, dirigi-me à bilheteria, desejando comprar um bilhete para o patamar do teleférico, embora não tivesse tempo para atravessar o Complexo do Alemão, estava disposta a pagar a tarifa apenas para conhecer o andar de cima.

Ah, mas nem tudo que reluz é ouro!! Ao dirigir-me ao caixa, a funcionária, embora de forma muito educada, no estilo funcionário padrão que busca a ascensão funcional na empresa, questionou-me se eu tinha autorização para fotografar. Disse-lhe, surpresa, que “não”. Em tom delicado, mas firme, prontamente disse: “Não pode fotografar sem autorização. Isso aqui é propriedade privada.” E devolveu-me o dinheiro, em vez de me dar o bilhete para subir ao andar de acesso ao teleférico.

Sem graça, constrangida e bastante confusa, sai da estação e fui para a empresa onde trabalho aguardar o horário do início de minha jornada.

Enquanto esperava, comecei a lembrar que a malha ferroviária do estado do Rio de Janeiro data do século XIX, e que passou por várias mudanças, com fechamento de ramais, sob administração federal, e depois para  a estadual, com mudanças de razões sociais das empresas que obtinham a concessão de administrá-la:  Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB), do início da República até os anos 50; Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) até os anos 80; Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) até os anos 90; Companhia Fluminense de Trens Urbanos (FLUMITRENS), privatizada em 1998, leiloada e adquirida pela SupeVia, atual administradora de toda a malha ferroviária do estado do Rio de Janeiro, inclusive do teleférico do Complexo do Alemão, que se integrou à malha desde a sua inauguração, em julho de 2011.

Ah, mas se as empresas administradoras da malha ferroviária alegam que investem em manutenção, reformam equipamentos, contratam recursos humanos etc, elas logo restituem o seu capital com o valor das tarifas cobradas aos passageiros. Afinal, trata-se de um negócio e é, portanto, altamente lucrativo. Por outro lado, a malha ferroviária do estado do Rio de Janeiro também se ergueu com recursos públicos ao longo de toda a história. Recursos esses cujas principais fontes são os impostos pagos por todos nós, a população brasileira. Somente para elaboração do projeto do Complexo do Alemão, segundo a Rocinha.org, o governo do estado do Rio de Janeiro pagou R$ 12 milhões. O teleférico do Complexo do Alemão, classificado como "obra pública", pelo vice-governador do estado, em entrevista ao jornal Estadão de 07 de julho de 2011, foi construído com recursos públicos, inclusive do Projeto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo a BBC Brasil, também de 07 de julho de 2011, saíram dos cofres públicos R$ 210 milhões, sem contar com os custos da operação de ocupação e implantação das Unidades de Polícias Pacificadoras (UPP’s), imprescindíveis para garantir os interesses das concessionárias.

E aí eu me pergunto: Por que o cidadão brasileiro tem que pedir autorização para fotografar um bem público? Será que os turistas também são impedidos de fotografar? Ou será que seu bilhete já vem com uma autorização?  E com tanto investimento de recursos públicos, como que funcionários da SuperVia podem dizer, e acreditar, que o prédio da estação ferroviária ou qualquer das estações do teleférico do Complexo do Alemão é uma propriedade privada? Então, se a SuperVia quiser ela poderá fechar as portas, derrubar cada pilar das estações, vender as dormentes dos trilhos? Enrolar os cabos dos teleféricos e levar embora cada gôndola? Será que pode?

Afinal, uma empresa ao adquirir a concessão para administrar um patrimônio público passa a ser proprietária do mesmo?

E como não me pediram para apagar as fotos, entendo que podiam ser feitas.


Luzia M. Cardoso



Fontes de consulta

Emop\ Governo do Estado do Rio de Janeiro: http://www.emop.rj.gov.br/noticia_dinamica1.asp?id_noticia=325