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terça-feira, 10 de março de 2015

MULHER, ...



MULHER, ...
Luzia M. Cardoso
RJ, 10\03\2015

Ser mulher em um país de cultura patriarcal, machista e violenta, como o nosso, não é nada fácil. Já na infância, nos cerceiam as brincadeiras, direcionando-as às bonecas, roupinhas, panelinhas e sonhos de Cinderelas à espera do príncipe-sapo encantado, e tudo em variações de  rosa.

- “Carrinhos, piões, pipas são coisa de meninos!”

Dizem as vozes mais conservadoras.

E argumentam:

- “Acham que fica bem meninas pularem a cerca e brincarem de carniça?”

E, assim, quando jovenzinha, a mulher tem que ter comportamento pudico e, para tanto, cuidar do que mostra.

- “Não podem ser fáceis!”

Alertam!

E os meninos? Ah, eles criados como bodes soltos e com o piu-piu pronto para voar e, assim, introjetam a ordem: se acreditam que a menina “deu mole”, creem que podem molhar o biscoito mesmo que tenha sido um engano seu, ou que ela mude de ideia no meio do caminho, afinal de contas, foram levados a crer que "não" quer dizer "sim".

Que loucura!

E segue a história.  Mulheres que não têm namorados, noivos, maridos, companheiros ou um homem ao seu lado são pouco chamadas para eventos sociais onde predominarem casais, pois as mulheres acompanhadas entendem que as desacompanhadas serão uma ameaça.

- “Vai que...”

No trabalho, sempre há o engraçadinho que acha que pode passar uma cantada vulgar, ou deslizar o seu pé, sob a mesa, na perna da mulher, ou tantos outros constrangimentos. E se a mulher, ascende profissionalmente, há a piada infame...

Nos ônibus, trens e metrôs cheios, os pintos soltos acham que podem se aninhar no corpo feminino que se apresenta à sua frente. E nas ruas, tantas outras baixarias.

E a que vem isso? Tem o propósito de, constrangendo a mulher, reafirmar a supremacia masculina, colocando a mulher no lugar que o homem quer: objeto, coisa, mercadoria que se manipulá-la, se apropria e domina.

O pior de tudo é que muitas mulheres reproduzem, às vezes inconscientemente, esse padrão social machista, violento e opressor. E não é à toa que algumas mulheres, quando se desentende com outra, xingam logo de piranha, vaca e puta. Há ainda o "arrombada"!


E o que significa na nossa sociedade ser piranha, puta e vaca? Significa aquela que dá para todo mundo e, se dá para todo mundo, tem pouco valor.

Vejamos o que há sobre vaca, piranha e puta:

O que é uma vaca? É mamífero e se em muitos países fornece leite e carne para os seres humanos (e leite e carne não estão nada baratos!), na Índia é animal sagrado.

Piranha é um peixe carnívoro de água doce e que ataca em grupo. Ou seja, é um peixe predador: ataca e come!!

E puta?

- “Ah, é a prostituta, a que faz sexo em troca de dinheiro.”

Diria alguns. Mas também há referência de que o termo venha do latim e signifique “poda” e que na mitologia romana, Puta seria uma deusa da agricultura e que, à época de poda das árvores, promoveria um bacanal. Vejam que o bacanal era promovido por uma deusa: uma mulher divina!

E arrombada? É o que foi aberto á força!

Ou seja, responsabilizamos aquela que foi submetida à violência?


Insano, não?

Bem, percebemos que os termos tiveram os seus significados distorcidos e tem como objetivo desvalorizar e constranger a mulher, padronizar o seu comportamento, limitar as suas ações, e perpetuar a dominação do homem sobre a mulher, reproduzindo o padrão machista de nossa sociedade.

Então, concluo eu que, ao darem outro significado aos termos, o objetivo foi cercear os direitos da mulher! Certo?


Mulheres, pensem bem antes de chamarem uma outra mulher de vaca, puta e\ou piranha!