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quarta-feira, 19 de junho de 2013

SEM BANDEIRA





SEM BANDEIRA
Luzia M. Cardoso




“A rua é nossa, aha, uhu!”, “A rua é nossa, aha, uhu!” E nos deparamos com a rua mais uma vez sendo conquistada como legítimo espaço de participação, de reivindicação e de protesto e hoje protagonizada principalmente pelos jovens de 2013. Uma lição aos jovens das gerações que os antecederam. Uma verdadeira aula de comunicação e mobilização.

E em poucos dias, o que era manifestação de centenas, virou movimento de massa além das fronteiras do país e descortina-se à nossa frente o “Movimento Pelo Passe Livre.”

E qual foi a motivação? Muitas. Com certeza muitas.  O descaso dos governantes por escolas, por hospitais e pelo suor de seus pais. Os gastos excessivos em infraestrutura para garantir maior enriquecimento de uma minoria durante as Olimpíadas de 2014 e a Copa de 2016.

Como se fosse deboche, o estopim do movimento é o aumento de R$ 0,20  sobre as tarifas dos transportes coletivos. E devido ao aparente motivo dos protestos, ouvimos dos governantes, dos donos das empresas e daqueles que acham que não têm nada com isso: - “Mas tudo isto por R$ 0,20?”.

Mas ao ver como cresce o movimento, parece que ouço no sussurro de seus passos: “Ora meus senhores e senhoras, não valemos nem mesmo R$ 0,20? Se é pouco para brigarmos, é menos ainda para vocês jogarem nas costas de nossos pais.”

E o movimento cresce e toma as ruas. Um movimento político que se anuncia sem partidos, explicitando o sentimento de descrédito pelos partidos existentes no Brasil. Um movimento que quer ter uma única face, contudo com múltiplos corpos.

E este movimento que reivindica o direito legítimo de ganhar a rua e expor os seus anseios e protestos; que grita “sem violência” para barrar a repressão do braço repressivo do Estado; que grita “sem violência” para barrar a ação depredadora de alguns de seus corpos, este mesmo movimento que se proclama “sem bandeira” quer  impedir o direito legítimo, e historicamente conquistado, de outros de seus corpos, que por caminhos já caminhados consideram importantes a filiação em partidos políticos revolucionários, que defendem a transformação social há mais de três séculos, tendo tido vários de seus quadros presos, torturados e mortos no combate ao nazismo, ao fascismo e há tantos outros sistemas que promovem desigualdades.

Por algum resquício dos ideários burgueses, que tentam nos fazer acreditar que as diferenças não existem (mas que se existirem deverão ser abafadas) e que confeccionam uniformes para negá-las, semelhantemente, muitos dos jovens participantes do Movimento Pelo Passe Livre querem arbitrar o uniforme (única forma) no não uso de bandeiras de partidos.
Mas o que é uma bandeira se não uma flâmula que explicita a que vem antes mesmo de chegarmos, antes mesmo de falarmos?

Mas o que é uma bandeira se não a transparência de nossos sonhos, de nossas ideias?

E a bandeira está tão misturada aos seus fundamentos que algumas pessoas nem precisam carregá-las, pois já refletem as suas cores. Vejamos, por exemplo, Laerte Braga  e Cyro Garcia precisam de bandeiras? Sendo eles uma das representações mais legítimas do PCB e do PSTU, estariam impedidos de participar do Movimento somente porque já sua própria figura os associa a bandeira dos partidos que constroem?

Mas há algo além da flâmula que balança no horizonte.  E há algo que faz balançar a flâmula no horizonte, embora nem sempre visível. Sim, há algo além das bandeiras, e este “algo além” denomina-se “ideologia”. Querendo ou não, concordando ou não, conscientes ou não, consequentes ou não, nosso verbo escrito e falado e as nossas ações embandeiram ideologias. 

Neste sentido, em toda ação há bandeiras e se há bandeiras em todas as ações, há também neste Movimento Pelo Passe Livre, embora tais bandeiras permaneçam na invisibilidade. Invisíveis, mas não inexistentes, assim como o vento que as movimenta. As bandeiras existem e estão sobre as cabeças dos participantes do Movimento pelo Passe Livre. 

Então, se bandeiras existem, se ideologias existe, que deixem que sejam percebidas, tornando-se visíveis aos olhos de todos, para que todos possam reconhecê-las e saber a que vieram.


Desculpem-me o transtorno, mas também estou aqui para mudar o Brasil!

domingo, 16 de junho de 2013

O Protesto de São Cristóvão - RJ: Mais uma cena da Rebelião do Vinagre




O Protesto de São Cristóvão - RJ: Mais uma cena da Rebelião do Vinagre

Luzia M. Cardoso


Hoje eu quis ver de perto a manifestação. E vi.  Vi e não acreditei que o nosso governo ponha forças policiais para amedrontar, acuar, prender  e maltratar, com gás de pimenta e lacrimogêneo, a juventude carioca. Um verdadeiro absurdo, Uma verdadeira truculência.



Vi rostos jovens, e muito jovens, gritando “Sem Violência”, usando de seu direito legítimo de manifestação. Estavam em paz, apenas gritando. E vi  um monte de homens, fortes policiais, armados, com escudos, carros e cachorros avançarem jogando bombas de gás lacrimogêneo na área onde estavam os jovens manifestantes.



Penso que toda luta deva ter princípios éticos: não atacar pelas costas e não atirar em pessoas desarmadas. Mas nas cenas que presenciei não vi ética alguma, pois a luta era desigual: de um lado jovens desarmados em sem treinamento de guerra ou guerrilha e de outro, homens blindados e com ampla experiência.



E, provavelmente, devido à experiência do aparato policial, os jovens correram para a Quinta da Boa Vista. Um lugar cercado por muros e com portões.  Neste sentido, vi os jovens presos lá, entre os muros da quinta da Boa Vista. Naquela hora pensei: “Deixarão os jovens aqui até tudo acalmar.” Mas que nada, jogavam bombas dentro da Quinta da Boa Vista!!!  Gente, em pleno domingo, dia em que famílias foram passear no local. Ora, já não tinham afastados os jovens da Av. Maracanã, precisavam tripudiar?



E fechavam a estação de São Cristóvão tirando o direito de todos de ir e vir. E o gás chegava a estação e as pessoas sofriam os seus efeitos e lá nem eram manifestantes.

E os jovens são solidários e socorriam senhoras, outros jovens e crianças. Ofertavam seus lenços, suas garrafas de água, seus ombros, e o vinagre para atenuar a queimação ardida causada pelas armas policiais.

Penso que está na hora daqueles jovens sonhadores dos anos 70, 80, 90 e 2000 se juntarem a estes jovens de 2013, pois o sonho é o mesmo. Penso que está na hora de mostrarmos que a luta por “Saúde, Educação, Liberdade de ir e vir, Transportes de Qualidade, Alimentação, Moradia, Terra e Teto" não é só luta de quem tem menos de 25 anos, também é a bandeira de seus pais, tios e de seus avós.



É verdade, o movimento é espontâneo e costurado nas redes sociais e, por ser espontâneo, pode ser também muito frágil. E neste sentido, aumenta a covardia de quem os ataca e a responsabilidade de quem manda atacar.


Deixo aqui o que as fotos e o vídeo que fiz, sufocada com o gás que aspirava e com os olhos embargados por perceber que as cenas que via foram gestadas nas urnas onde depositamos os nossos votos. Dispenso, também, os direitos autorais das fotos e do vídeo desta crônica.