SEM BANDEIRA
Luzia M. Cardoso
“A rua é nossa, aha, uhu!”, “A
rua é nossa, aha, uhu!” E nos deparamos com a rua mais uma vez sendo
conquistada como legítimo espaço de participação, de reivindicação e de
protesto e hoje protagonizada principalmente pelos jovens de 2013. Uma lição
aos jovens das gerações que os antecederam. Uma verdadeira aula de comunicação
e mobilização.
E em poucos dias, o que era
manifestação de centenas, virou movimento de massa além das fronteiras do país
e descortina-se à nossa frente o “Movimento Pelo Passe Livre.”
E qual foi a motivação? Muitas.
Com certeza muitas. O descaso dos
governantes por escolas, por hospitais e pelo suor de seus pais. Os gastos
excessivos em infraestrutura para garantir maior enriquecimento de uma minoria
durante as Olimpíadas de 2014 e a Copa de 2016.
Como se fosse deboche, o estopim
do movimento é o aumento de R$ 0,20 sobre as tarifas dos transportes coletivos. E
devido ao aparente motivo dos protestos, ouvimos dos governantes, dos donos das
empresas e daqueles que acham que não têm nada com isso: - “Mas tudo isto por
R$ 0,20?”.
Mas ao ver como cresce o
movimento, parece que ouço no sussurro de seus passos: “Ora meus senhores e
senhoras, não valemos nem mesmo R$ 0,20? Se é pouco para brigarmos, é menos
ainda para vocês jogarem nas costas de nossos pais.”
E o movimento cresce e toma as
ruas. Um movimento político que se anuncia sem partidos, explicitando o
sentimento de descrédito pelos partidos existentes no Brasil. Um movimento que
quer ter uma única face, contudo com múltiplos corpos.
E este movimento que reivindica o
direito legítimo de ganhar a rua e expor os seus anseios e protestos; que grita
“sem violência” para barrar a repressão do braço repressivo do Estado; que
grita “sem violência” para barrar a ação depredadora de alguns de seus corpos,
este mesmo movimento que se proclama “sem bandeira” quer impedir o direito legítimo, e historicamente
conquistado, de outros de seus corpos, que por caminhos já caminhados
consideram importantes a filiação em partidos políticos revolucionários, que
defendem a transformação social há mais de três séculos, tendo tido vários de
seus quadros presos, torturados e mortos no combate ao nazismo, ao fascismo e há
tantos outros sistemas que promovem desigualdades.
Por algum resquício dos ideários
burgueses, que tentam nos fazer acreditar que as diferenças não existem (mas que
se existirem deverão ser abafadas) e que confeccionam uniformes para negá-las,
semelhantemente, muitos dos jovens participantes do Movimento Pelo Passe Livre
querem arbitrar o uniforme (única forma) no não uso de bandeiras de partidos.
Mas o que é uma bandeira se não
uma flâmula que explicita a que vem antes mesmo de chegarmos, antes mesmo de
falarmos?
Mas o que é uma bandeira se não a
transparência de nossos sonhos, de nossas ideias?
E a bandeira está tão misturada
aos seus fundamentos que algumas pessoas nem precisam carregá-las, pois já
refletem as suas cores. Vejamos, por exemplo, Laerte Braga e Cyro Garcia precisam de bandeiras? Sendo eles
uma das representações mais legítimas do PCB e do PSTU, estariam impedidos de
participar do Movimento somente porque já sua própria figura os associa a
bandeira dos partidos que constroem?
Mas há algo além da flâmula que
balança no horizonte. E há algo que faz
balançar a flâmula no horizonte, embora nem sempre visível. Sim, há algo além das
bandeiras, e este “algo além” denomina-se “ideologia”. Querendo ou não,
concordando ou não, conscientes ou não, consequentes ou não, nosso verbo escrito
e falado e as nossas ações embandeiram ideologias.
Neste sentido, em toda ação há bandeiras e se há bandeiras em todas as ações, há também neste Movimento Pelo Passe Livre, embora tais bandeiras permaneçam na invisibilidade. Invisíveis, mas não inexistentes, assim como o vento que as movimenta. As bandeiras existem e estão sobre as cabeças dos participantes do Movimento pelo Passe Livre.
Então, se bandeiras existem, se ideologias existe, que deixem que sejam percebidas, tornando-se visíveis aos olhos de todos, para que todos possam reconhecê-las e saber a que vieram.
Neste sentido, em toda ação há bandeiras e se há bandeiras em todas as ações, há também neste Movimento Pelo Passe Livre, embora tais bandeiras permaneçam na invisibilidade. Invisíveis, mas não inexistentes, assim como o vento que as movimenta. As bandeiras existem e estão sobre as cabeças dos participantes do Movimento pelo Passe Livre.
Então, se bandeiras existem, se ideologias existe, que deixem que sejam percebidas, tornando-se visíveis aos olhos de todos, para que todos possam reconhecê-las e saber a que vieram.
Desculpem-me o transtorno, mas
também estou aqui para mudar o Brasil!