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segunda-feira, 27 de julho de 2015

A Crítica História da Política de Saúde Brasileira



Desde que eu me entendo por gente que ouço que o Brasil é o país do futuro (embora, hoje em dia, nem tenha ouvido tanto). Esse “gigante pela própria natureza tem as suas riquezas, de dimensões continentais, exaltadas, cobiçadas e expropriadas em veias dilaceradas, desde sua ocupação, pelos povos desbravadores do além-mar. E, sem licença poética alguma, refazendo as regras e as métricas de tantas prosas.
A riqueza mais expropriada, e nunca exaltada nos hinos, é o povo brasileiro. A força de trabalho do povo brasileiro. A esperança, a fé, a garra que redobra em capacidade de produção do povo brasileiro.
Esse povo tão mestiço, misturado por gente que veio de todos os outros continentes e que formaram esse nosso povo brasileiro. O povo brasileiro, povo constituído por cada um de nós, que o forma, que o conforma e que o transforma.
Esse povo brasileiro, nós, o povo brasileiro, plantamos e cortamos cana-de-açúcar, café, algodão, soja, frutas... Entramos nas entranhas da terra para retirarmos de lá metais preciosos... Entramos em rios e mares para pescar os frutos de lá...
Quando nos tiraram as terras, as águas, mudamos para os grandes centros e cedemos a nossa energia vital para a produção. Homens, mulheres, jovens, crianças serviam à nação.
Moramos como pudemos, em cortiços, palafitas, barracos de sucata, madeira, alvenaria. Sem chão, subimos as lajes a preço de ouro. Favela que cria raízes, fecha cenários, pulsa em estreitas ruelas e rompe como aneurismas.
Moramos onde o ar mal circula, onde o sol faz mais sombras e onde o céu sumiu, pois o horizonte não existe.  Onde moramos teve varíola, teve febre amarela, teve tifo... Onde moramos, espreitam-nos fungos, bactérias, vírus e bacilos... Onde moramos.
Talvez por sermos dóceis, talvez por sermos tantos, nos vemos à própria sorte, à beira da morte. No mundo de mercadorias, o que não é vendido, se descarta no fundo do rio, no fundo do mar, no fundo do poço.
Quando temem que a mais valiosa das mercadorias se extinga, ou quando temem que ela possa ameaçar a circulação das outras mercadorias que ela mesma produz, aí, criam, em caráter de urgência, políticas segmentadas, focais, não universais e financiadas com o sangue daqueles a quem tais políticas se direcionam: Caixas de Aposentadorias e Pensões, Institutos de Aposentadorias e Pensões, Instituto de Assistência Médica e Previdência Social. Nos vemos no baile fiscal da ilha das letras.
E para os não assistidos, a beneficência social, empresarial e governamental que negociando com o poder celestial, tentam criar as condições, no Reino de Deus, para a concentração das riquezas que houver por lá.
Nós, o povo brasileiro, que passamos por ditaduras, tiranias, torturas e exílios não passamos tão dóceis. Nós, o povo brasileiro, lutamos e mudamos, na lei, as regras do jogo. Daí a Consolidação da Leis Trabalhistas (CLT), daí o Suas (Sistema Único da Assistência Social (SUAS), daí o Sistema Único de Saúde (SUS). Daí a lei Maria da Penha, os estatutos da criança e do adolescente, dos idosos etc.

Criamos leis, contudo, como bons aprendizes, tudo nos conformes da dança das letras na Ilha Fiscal.  Na Ilha Fiscal, no mundo das letras, tudo é mercadoria e a saúde não é exceção.
Em pleno século XXI, quando o homem conquista o Universo crendo-se Deus, quem quer saúde tem que comprar. Saúde de ouro nos Health’s Shopping! Enquanto em outros centros comerciais oferecem a saúde de prata, a saúde de bronze, a saúde de lata, todas expostas em vitrines onde se paga pelo que não se leva.
Nesse mercado insalubre, há a saúde popular, abarrotada de gente, impenetrável como os bons camelódromos. E o mercado subterrâneo também não ficaria de fora, criando as suas formas clandestinas de vender saúde.
O público e o privado de braços dados para o consenso popular. Enquanto nós, o povo brasileiro, só percebemos que o plano que pagamos tem telhado furado quando o tratamento para algum mal que nos acomete ou o tempo de hospitalização têm valores cuja cobertura não coube em nossos bolsos.
E o SUS?   Sem dúvida alguma, nos moldes de sua origem, é uma excelente propostas, contudo, viável se, e somente se, a saúde privada ficar restrita à complementaridade com objeto e área devidamente demarcados e sob o controle popular.

Luzia M. Cardoso
RJ, 27\07\2015

terça-feira, 14 de julho de 2015

Naipes e Cartas

Quem conhece cartas de baralho, cartas que se embaralham, cartas que são embaralhadas, também conhece seus naipes. Existem as copas, os ouros, as espadas e os paus, Os naipes podem ser compreendidos como os quatro elementos da natureza, como as representações das forças do Universo. Mesmo quando compreendidos como degraus sucessivos, e portanto, percebidos como algo organizado em séries ascendentes, há que lembrar que pertencem ao mundo das cartas e que, portanto, se embaralham.

O sábio compreende que não há naipes superiores e inferiores e que se um parece de nível inicial, hoje, pode ser degrau acima, amanhã. Dependendo do ponto de vista e das finalidades, até no momento presente isso pode ocorrer. 


Não há naipes melhores ou piores. Não há naipes completos e outros incompletos. Há naipes em movimento, embaralhando-se e por forças diversas, sendo também embaralhados. Por isso, não há naipes mais importantes que outros, pois a relação entre eles é determinante para o movimento, para a criação, e também para a destruição, e daí resulta a transformação.


Mas se percebemos os naipes, devemos também entender os jogos de cartas. Há jogos diversos, com regras diversas. Essas regras definem as cartas de poder: os coringas, os trunfos, aquelas que cortam a jogada do outro. Mas mesmos nos jogos, observamos como os naipes se embaralham, como os jogadores embaralham as cartas. Há quem marque cartas e manipule sua distribuição. Contudo, as cartas de poder sempre se alternam por entre os naipes. Há alternância de poder entre os naipes em todo e qualquer jogo.

Com cartas na mão, os jogadores definem o jogo a jogar, bem como os seus parceiros de rodada. Contudo, muitas vezes os parceiros são decididos aleatoriamente. Muitas vezes, também, nem todos os presentes sabem qual é o jogo a ser jogado e, assim, vemos gente jogando buraco, outros, sueca, os que preferem o trunco, a batalha, o bacará e quem aposta alto no pôquer, se fiando nas possibilidades do blefe...


Eu ainda aposto na força daqueles que enxergam as cartas e os jogos diversos para exercitarem a paciência.



Luzia M. Cardoso​


sexta-feira, 12 de junho de 2015

CBCISS - CURSO DE ATUALIZAÇÃO: A PRÁXIS DO SERVIÇO SOCIAL

Vai acontecer, com início na próxima 6ª feira, dia 19 de junho!

CBCISS -  CURSO DE ATUALIZAÇÃO: 
A PRÁXIS DO SERVIÇO SOCIAL

Período: 19 de junho a 21 de agosto de 2015 - às sextas-feiras 
Horário: 13:00 às 17:00 horas
Professora: Luzia Magalhães
Carga horária: 40 horas/aula – 10 Encontros presenciais.
Haverá certificados.
Local: CBCISS – Av. General Justo, 275, Sala 301-302- Centro – RJ.
Informações e Inscrições: Av. General Justo, 275 Sala 301-302, Centro, RJ.
E-mail: cbciss@uol.com.br
Tel.: (21) 2220-8174
Tel/FAX: 2220-8274 ou com Helena: 8754-9832

segunda-feira, 13 de abril de 2015

TOC


TOC!



Educação é fundamental e se inicia em nossa casa, com os nossos pais, irmãos, irmãs e com todos os nossos familiares. A Educação é enriquecida em nossos círculos sociais, na escola e em todas as nossas relações em sociedade.
Nesse sentido, a Educação não se restringe aos conhecimentos sobre cálculos, geografia, ciências etc. Não, ela vai muito além. A Educação nos introduz na cultura de nosso povo, nas normas, regras, leis, hábitos, valores, comportamentos, costumes, crenças e conhecimentos sobre o dia a dia, sobre a natureza... Sobre a vida.
Por meio da Educação, conhecemos os mitos, as lendas, as histórias de nossos antepassados, o método e os instrumentos próprios ao labor diário, a forma de ver, de ser e de estar neste nosso mundinho de meu Deus.
Significa que a Educação é processo contínuo e, por isso, está em constante construção. Aprendemos no contato e no diálogo com pessoas de diferentes gerações, de diferentes grupos sociais, de diferentes culturas e de saberes diversos.
A Educação é circular, se movimenta, vai de um para o outro, assim, estamos sempre educando e sendo educados!
Só de pensar nisso, sinto o calor da esperança e a brisa da saudade.... E quantas saudades!!!!!
Nesse processo educativo que é histórico, nos chegaram o boitatá, curupira, mãe d’água, saci-pererê. Nessa correspondência intertemporal, nos enviaram as cirandas, os piques, o pião, as pipas, as bolinhas de gude, a amarelinha, pula corda, pernas de pau, pé de lata... E tantas formas e possibilidades de comunicação com o mundo invisível também nos foram transmitidas ... Tanto aos que creem quanto aos que não creem.
A reverência, o respeito e a atenção às pessoas mais velhas, o cuidado para com os mais novos, o carinho e a proteção às gestantes, o respeito aos animais e à natureza, bem como a importância de estarmos atentos aos seus sinais também nos chegaram pela Educação.
Em todas as áreas da vida social estamos aprendendo. Aprendemos sobre a beleza e os riscos do mar, do rio e das cachoeiras; sobre a necessidade dos cuidados nas rodovias, ferrovias etc. Aprendemos sobre a importância da atividade física, da leitura; do envolvimento com as artes, aprendemos culinária...
E por falar em culinária, aprendemos a conhecer os alimentos, pelo cheiro, pela textura, pela cor e, assim, ficamos sabendo que há uma alquimia em seu preparo, havendo método para combiná-los e para servi-los. E aprendemos que os alimentos são compartilhados na hora das refeições, que também é um importante momento de confraternização.
À mesa, aprendemos a receber as pessoas, caprichando na sua arrumação, onde o que dá o tom do bom gosto é o carinho e o cuidado para com todos. Nesse momento, o importante é o prazer de reunir e estar com os familiares, com os amigos, oferecendo o que temos de melhor, o nosso afeto.
E o comportamento à mesa? Ouvimos muitas “damas da média e alta sociedade”, da burguesia e da pequena burguesia, que vêm à público ensinar “regras de boas maneiras”, com destaque especial para o comportamento à mesa. E muitas, não fazem de graça, cobram pelas aulas que dão.
Mas, quem é que define o que vem a ser “boas maneiras”? Há regras além da segurança, da higiene, do conforto, do aconchego e do cuidado para com cada pessoa presente? Há valor maior do que não causar constrangimento algum a ninguém? Existem maneiras melhores de receber alguém do que respeitando suas origens, seus costumes, suas tradições e sua história? Há Educação melhor do que aquela que nos possibilita compreender que as pessoas são diferentes e têm hábitos diversos e são todas iguais perante o Universo? Há melhor forma de mostrarmos que estamos sendo muito bem educados do que saber conviver com essas diferenças, sem humilharmos e sem tentarmos impor os nossos costumes, as nossas religiões e crenças e o nosso padrão de comportamento aos demais?
Vejamos, os orientais têm como utensílios de mesa os hashis, os barquinhos, espetinhos de bambus, tigelas, pires diversos, onde colocam os molhos e copos para servirem chás e saquê. Sentam-se ao chão. Os europeus usam talheres de metal, com formatos e tamanhos diferentes para carnes, para peixes. Eles adotam pratos rasos e de diâmetro maior para saladas, outros fundos e de diâmetro menor para caldos; usam copos e taças de altura e largura diversas, diferenciando-os conforme o tipo de bebida. Os indianos, por considerarem o alimento sagrado, comem com as mãos. E, assim, de cultura em cultura, de história em história, de tempos e tempos, os valores, as tradições, os hábitos e os costumes são repassados às novas gerações. Isso é Educação, carregada de afetos, de respeito, de cuidados e de lembranças. E a Educação também constitui uma nação.
Mas essa história vem de longe... Na história da humanidade, nas sociedades europeias, o uso de talheres para a alimentação foi instituído pelo clero e pela nobreza, com regras próprias para o comportamento social. Tempos depois, veio a burguesia que, de forma caricaturada, tentava imitar o comportamento dos nobres. Os nobres não pareciam se preocupar com os valores e costumes da plebe. Muito pelo contrário, sentiam ser necessário que fossem diferentes dos seus, criando uma aura mística sobre si mesmos, perpetuando a dominação pela força e pela religião.
Já a burguesia busca interferir nos valores de todas as outras classes sociais. Dominam pela coerção e pelo consenso, daí a ideologia ser de fundamental importância. A burguesia e seus aliados querem fazer valer como única a sua forma de ver e estar na vida, embora digam que isso é democracia e liberdade. Como defendem a sua forma como “a verdade”, classificam a Educação como boa e má educação. De forma que aquela inerente às classes camponesas, populares e trabalhadoras é considerada como Educação de qualidade inferior ou como falta de Educação. De forma que, para serem aprovados pelos burgueses, que se sentem “seres superiores”, autoproclamando-se elite, aqueles que pertencem às classes sociais classificadas como “plebe”, povo, têm que se comportar conforme suas regras.
E ainda hoje isso ocorre? Nossa!!!
Ahhh, não! Hoje, não. Não mais permitiremos! Não venham tentar nos convencer que existe boa e má educação! Não venham tentar nos fazer acreditar que existem comportamentos, valores, costumes, crenças e tradições superiores e inferiores! Façam-me o favor! Não venham dizer como temos que nos comportar aqui e acolá. Não venham com essa história que, à mesa, nunca devemos apoiar os cotovelos; que, no máximo, podemos apoiar as mãos; mas que devemos, sempre, deixá-las sobre o nosso colo. Não venham nos dizer que a boa Educação é da elite, cheia de pratos, copos, taças e talhares, cuja disposição sobre a mesa dita a ordem de uso, com tantos rituais para isso e para aquilo.
Quem foi que decidiu que folhas de saladas não podem ser cortadas com facas e que temos que ter habilidade para, manejando os talheres, transformá-las em um embrulhinho para levá-las, uma a uma, à boca? Quem determinou que macarrão não pode ser cortado, que temos que enrolá-lo com o garfo, e nunca com o auxílio da colher, e que devemos começar a comer pelas bordas do prato?
Pensemos bem, o que é mais grosseiro, aquele que serve uma salada com folhas inteira e enormes ou aquele que corta as folhas para comê-las? O que é que causa mais constrangimentos, servir uma sopa no ponto de ebulição, queimando a boca dos desavisados ou, diante do caldo fervente, tentar esfriá-lo com sopros, antes de levá-lo à boca?
Pois é, mas as regras de boas maneiras, mais do que aconselhar a fazer trouxinhas de folhas de alface e aconselhar a esperar a sopa esfriar, conversando com os presentes, deveriam indicar que folhas não devem ser servidas inteiras, mas em tamanho confortável e que o caldo deve estar em temperatura apropriada para o consumo imediato. Não acham?
Quem foi que deu o direito a um grupo social de determinar o que os outros devem ou não devem fazer?
O que não é lei e não se configura em pacto social não é para ser apresentado como regra! Onde está a explicação científica que comprove que o alimento consumido conforme as regras da etiqueta burguesa possibilita melhor aproveitamento pelo organismo e, por isso, é mais nutritivo e saudável?
O que não é comprovado pela ciência não passa de rituais para diferenciar um grupo do outro. Não passa de um conjunto de ideias fundamentadas na lógica do exercício do poder. Não passa de mais uma forma de dominação, pois tem como função separar, discriminar e classificar.
É assim que se perpetua a dominação de uma classe sobre a outra. Quem tem o poder econômico se acha no direito de dar a direção do comportamento de toda a sociedade, se apresentando como modelo a ser seguido, como o detentor da verdade suprema, tentando moldar as outras classes sociais à sua imagem e semelhança, para, assim, poder manipulá-las.
Já perceberam como perdem a espontaneidade as pessoas que ascendem economicamente e que buscam aproximação com a burguesia? Parecem engessadas. Tentam, de toda forma, se tornar o espelho daqueles que acreditam estar em nível acima do seu. Transformam-se na caricatura da caricatura!!!
Elite que nada!!!! O que existe é um grupo que explora outros grupos e que, por se apropriar das riquezas produzidas, ostenta, esbanja, criando rituais, enquanto os demais grupos sociais que são explorados e privados do acesso aos bens e serviços que produzem com o suor de seu trabalho, vivem na escassez.
Por isso que, olhando de perto, fazer crer que alguns hábitos e costumes são melhores que os outros é a expressão máxima da grosseria, da miopia social, e de problemas no processo de Educação. E, simplesmente, porque essa atitude é falsa, impositiva, autoritária, arbitrária, arrogante e causa constrangimentos aos outros.

Creio que se nos relacionamos socialmente, estamos sempre em contato com pessoas de diferentes culturas, de diferentes tradições, e devemos deixá-las à vontade para seguirem os seus costumes.
Anfitriões bem educados, quando oferecem almoços ou jantares, ofertam talheres diversos, de acordo com a cultura e hábitos dos convidados; não servem pratos exóticos e desconhecidos dos mesmos, nem alimentos que os presentes, por tradição, religião, dieta ou outro motivo qualquer, não comeriam. Anfitriões bem educados buscam, antes, conhecer os hábitos, as tradições e costumes dos convidados para garantirem uma boa recepção. A regra primeira da boa Educação é não causar constrangimentos!
E sem caras e bocas, por favor!!!!!!
E se alguém pensar em promover algum encontro temático, ao convite, a etiqueta, informando com antecedência o tema!
Lembremo-nos que os valores máximos a serem cultivados na relação com os outros são respeito e cuidado para com o bem-estar de todos. Somente dessa forma poderemos garantir uma boa convivência social. Cuidando uns dos outros, nós construiremos uma sociedade melhor.
E o resto? Na minha opinião, o resto não passa de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), sinal de transtorno mental !!!
Luzia M. Cardoso
RJ, 13 \04\2015

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Das Baratas e Pererecas às Andorinhas e Gaivotas


Das Baratas e Pererecas às Andorinhas e Gaivotas


Às vezes, dou-me a viajar em minhas reflexões acerca do cotidiano da vida no Brasil ... Como são ricas a nossa flora e a nossa fauna, Não é? Nossas aves são lindas e majestosas, embora, algumas estejam ficando raras, pois estão sumindo. E este é o caso de tucanos, araras, dos curiós, tico-ticos, coleiros, do galo de campina, tiês-sangue, corrupião, pintassilgo, bico-de-lacre e tantos outros.

E a ameaça de extinção se deve tanto à caça predatória quanto ao desmatamento.  Lembro-me que em minha infância ainda víamos os biquinhos de lacre pousando em galhos de árvores e mesmo nos fios elétricos das ruas.  Os morros não estavam tão desmatados e ainda havia muitas casas com quintal, jardins e árvores frutíferas.

Por conta da insensatez humana, e da avidez do capital, algumas espécies de periquitos e papagaios também estão em vias de extinção.

Papagaio!!!!

E por falar em insensatez, a humanidade roda numa estranha loucura, não é?

Refletindo acerca da realidade atual e, em particular, das aves, lembrei-me dos pintos. Já pensaram na ternura que a imagem de um pintinho nos remete? Assim também quando pensamos em passarinhos. Dá vontade de acolhê-los.

Já os periquitos e papagaios, não. Eles são belos, mas tememos que sejam deselegantes e agressivos. O mesmo não acontece com os colibris. Alguém já viu algum colibri violar botão de flor? Ah, não, não, não e não!! Eles somente se achegam às flores que já desabrocharam, embora não perguntem se elas querem ou não que se acheguem. Entendem que, se desabrocharam, liberaram geral. Pode até ser que seja assim no mundo das flores ... E como os animais citados são irracionais, eles seguem os seus instintos.

Vejamos as cobras. Cobras dão medo, embora digam que seduzam, elas são predatórias e devoram tudo o que está pela frente. Enrolam, amassam, picam e ... Devoram quando estão famintas ou ameaçadas. As cobras são exibidas em circos e em alguns shows, mexendo com o imaginário de muita gente...

Já os anfíbios não nos causam ternura. Acho que nem medo. Também poucos se interessam em saber se eles estão em extinção ou não, embora, desde décadas passados,  já esteja sendo comprovada a diminuição da população desses seres.

E quem é que pensa em sapo, se não as ingênuas princesinhas, na esperança de descobrirem nele um príncipe encantado, ou as temíveis bruxas que, dizem as más línguas, o utiliza em suas magias.

E as pererecas? Alguém já pensou em proteger uma perereca? Mesmo sabendo da sua importância nos jardins, alguém já cuidou para que pererecas fiquem por perto?

Com as rãs já é diferente. Prato exótico! Há quem as crie para comercializá-las, pois quem gosta, já começa a salivar, pensando em saboreá-las.

De qualquer forma, quando pensamos em pintos e passarinhos vem um sentimento de proteção. "Aiiii, que fofos!!!!" Já ouço. Enquanto que quando nos remetemos às pererecas, franzimos a testa, desejando espantá-las e, se necessário, com vassouradas. “Sai para lá, sua feiosa!” “Lugar de perereca é no brejo, nos pântanos!”.  Significa que, para nós, se pererecas quiserem liberdade, que fiquem lá nas penumbras lodosas.

E nessa viagem louca, cheguei aos insetos. Há os que picam e há os que roam. Pernilongos picam e as baratas roem.  

Alguém já pensou em acolher um pernilongo ou uma barata? Pernilongos são ariscos, traiçoeiros e perigosos! De picada em picada, deixam marcas e transmitem doenças!

E as baratas? O que fazemos quando vemos uma barata? Pensem nas voadoras!!!! Já ouvi pessoas dizerem que baratas nunca deveriam ter asas. “Cortemos as asas das baratas!” Gritariam muitos. “Chineladas nelas!” Se apresentam outros.

Temos ainda as borboletas, mariposas e libélulas. Interessante, porém que embora a maioria das espécies voe à luz do dia, há quem imagine que elas saiam apenas à noite. Associam-nas ao exótico, talvez devido à metamorfose. Embora belas, ainda há muito mito e preconceitos em torno delas.

E, viajando nessa "vibe", lembrei das metáforas infames e das mensagens subliminares que tais metáforas nos transmitem, levando-nos a acreditar que uns devem ser criados livres e soltos, mesmo que sejam predatórios, enquanto outros, apesar de inofensivos, devam ter espaços e movimentos cerceados.

Sabe de uma coisa? Basta de castração! Basta de repassarmos essa ideologia repressora! Metáfora por metáfora, em vez da relação com o desprezo  e com o asco que nos remete a ideia das pererecas e baratas, façamos a associação com a dignidade, com a desenvoltura e com a beleza do direito à liberdade das andorinhas e das gaivotas!

Luzia M. Cardoso
RJ, 10\04\2015

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Pagando o Pato

   

Pagando o Pato



Trampo não é moleza, não e quem vive dele sabe muito bem disso! Há, evidentemente, alguns companheiros e companheiras que até conseguiram o trampo-dos-sonhos, de forma que unem o prazer da criação com a necessidade de vender a força de trabalho, em troca de salário para o pão nosso de cada dia. E, desses, muitos tiveram que investir muito para chegarem ao sonho. Muito trampo desprazeroso foi necessário enfrentar, e, quando não foram os próprios, certamente os seus familiares e muitos de seus ancestrais. 

A maioria de nós, todavia, vive do trampo-sacrifício, em atividades rotineiras, muitas vezes de pouco sentido onde, na maior parte do tempo, quando não é no tempo todo, a mente vagueia enquanto o corpo se arrisca e padece.  É claro que, em todas as atividades, mente e corpo são imprescindíveis para a sua realização, mas há atividades em que existem muitas horas que não levam a mente a lugar algum, ou a empurra para o mundo das emoções. E se o corpo padece e a cabeça não cria, vem o desprazer, a dor, a insatisfação, o sentimento de inutilidade... E daí, essa enxurrada de emoções romperá alguma barreira e se projetará naquilo que estiver à frente.

Num belo dia, na minha rotina de pegar no meu trampo, enfrentando o trajeto de ônibus, antes de subir no coletivo, percebendo que não tinha nem um vintém no bolso (quanto mais algum Real), dirigi-me ao único caixa eletrônico das proximidades e recebi a menor nota disponível na maquininha: R$ 50,00.

Fiquei bastante preocupada e ainda ensaiei entrar na padaria, ou na farmácia, para comprar alguma coisa qualquer, a fim de trocar a tão famigerada nota. Percebi, no entanto, que apenas anteciparia o constrangimento. Sabemos que caixas de estabelecimentos comerciais nenhum te trata bem quando você compra algo de um ou dois Reais com uma nota de R$ 50,00.

Sem saída, atravessei a rua e dirigi-me para o ponto do ônibus. Eis que chega o meu busão. 

 Subi. Muito sem graça, dei o meu único dinheiro para pagar a passagem. E aí começaram os transtornos temidos.

- Não tem menor não?

Perguntou-me a trocadora. Disse-lhe que não, que era o meu único dinheiro naquele dia e que eu não tinha nem mesmo moeda alguma, infelizmente.

- Não tenho troco não!

De forma agressiva, abrindo a bandeja de troco que, à minha vista, parecia vazia, retirou uma cédula de R$ 20,00.

- Só tenho R$ 20,00!

Reclamou com desdém. Disse-lhe que eu poderia passar e aguardar que fizesse o troco.

- Não senhora! A senhora fique aqui! Se eu fizer troco, a senhora passa!

Determinou. Olhei ao redor e vi que, naquele ônibus, antes da roleta, não havia nenhum banco para eu sentar. Solicitei, novamente, que me deixasse passar e que aguardaria o troco.

- Não senhora! Não sou obrigada e te dar troco para R$ 50,00! O troco máximo é para R$ 20,00!

Roxa de raiva, respondeu-me a trocadora. Sob as vibrações de Jó, numa santa paciência (talvez, por isso, a trocadora não tivesse nenhuma), olhei as paredes ao redor, procurando o Decreto que fala do troco máximo obrigatório. No lugar onde deveria estar a informação, havia uma mancha de algo que dali fora retirado. Perguntei-lhe sobre o Decreto, e ela que já nem me olhava, também não se dispunha mais a me responder.

Completamente constrangida, me equilibrando em pé, voltei a solicitar-lhe que me deixasse passar para sentar e aguardar o troco.  Fez ouvidos moucos.

Novos passageiros subindo, uns com cartão outros com o valor certo. Todos passando a roleta e eu, ali, em pé.

Dois bairros à frente, uma pessoa entrou com uma nota de R$ 20,00 e passou, com o troco surgindo facilmente em notas de R$ 10,00, de R$ 5,00, de R$ 2,00 e moedas de centavos.

- De onde ela fez surgir o dinheiro? 

Pensei. Voltei a solicitar que me deixasse passar. Novamente, ouvidos moucos.
Jó deve ter ido dar uma voltinha em outro ônibus, pois a minha paciência atingia o nível zero. Abri a bolsa e peguei o celular. Procurei o ícone da câmera, depois o da filmadora e, em tom audível, comuniquei:

- Estou gravando, viu? Então, deixa ver se eu entendi: a senhora está me impedindo de viajar sentada porque estou pagando a passagem com uma nota de R$ 50,00? É isso mesmo? Estou sendo punida?

Visivelmente p... da vida, a trocadora olhou para mim com os olhos em faíscas. Com gestos brutos, destravou a roleta. 

Passei e sentei-me no banco próximo a ela, para aguardar o meu troco, pois desde o início ela ficara com a minha única nota. Mantive o celular em punho. Vi a trocadora abrir a gaveta e fazer aparecer o dinheiro que ela disse não ter. Munida das frustrações acumuladas pelo seu tempo de trampo, com muito ódio no olhar, ela deveria pensar que vingança é um prato que se come frio e preparava o troco. 

Passagem no valor de R$ 3,40 e troco para R$ 50,00. Ao terminar de juntar, fitou-me com o rosto irradiando uma estranha satisfação. Dar-me-ia o troco, certamente. 

- Tome o seu troco!!!!!

Esbravejou. Entregou-me uma nota de R$ 20,00; três notas de R$ 2,00; duas moedas de R$ 0,05; uma moeda de R$ 0,50; vinte moedas de R$ 1,00; acrescidas de todo o constrangimento que vivenciei!

Estava tão constrangida que precisei conferir umas quatro vezes. Ora o valor que me fora entregue parecia ser menos, ora parecia ser mais. Não sabia o que fazer. Convidei-lhe, então, a conferir comigo.

- Não vou conferir nada!!!!

Esbravejou a trabalhadora.

Então, eu disse, conferindo em tom audível:

- Olha, vou contar novamente. Se tiver a mais, eu te devolvo. Se tiver a menos, espero que faça o mesmo.

- Não vou conferir mais nada!!! Já te dei o troco!

E virou-me a cara.

Bem, conferi e,naquela minha última conferência, o troco estava certo.

Fiquei lá, quietinha em meu banco, aguardando chegar ao meu destino. Graças aos céus, chegou. Dei sinal e desci. Lembrei-me de meu celular e fui conferir a filmagem.  

- Não acredito, não acionei o botão de gravar!!!! Estava tão constrangida que não gravei. Argh!!!!! 

Ao final do dia, já em casa, eu fui buscar confirmar a informação acerca do troco máximo obrigatório e a Lei e diz o seguinte:

“Decreto 7.445 de 02/03/88, Art. 2º: O troco máximo obrigatório no Serviço de Transporte Coletivo de passageiros por ônibus do Município do Rio de Janeiro é de até 20 vezes o valor da tarifa.” 

Eu estava dentro da lei!!!!!!! O troco máximo obrigatório para a passagem de ônibus de valor de R$ 3,40 é de R$ 68,00!!!!!! 


Luzia M. Cardoso
RJ, 09\04\2015

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Conversa de Ônibus: PAPAGAIO!!!!!


Conversa de Ônibus

PAPAGAIO!!!!!


Estava indo para o trabalho, de ônibus, sentada no banco unitário, um daqueles que ficam ao lado da roleta, atrás da cadeira do motorista, quando, inevitavelmente, acabei ouvindo a conversa entre o motorista e o trocador. Dizia o motorista ao seu colega de trabalho:

- (...) E de repente, percebi um alvoroço e um passageiro, que estava em um dos bancos traseiros, gritava: - Feche a porta, motorista! Não deixe ninguém sair! Pare, ali, na prefeitura. Já liguei para o 190!

E continuava o motorista com a sua narração:

- Nisso, um homem falou: - Por favor, motorista, tenho hora no trabalho.  Abra a porta para eu sair.

Seguia o narrador:

- Pensei: Se abrir a porta, ajudo um. Se seguir, ajudo todos. Ah, f... por um, f... e meio... e fui. Chegando na prefeitura, a patrulhinha já estava acionada e o banzé dentro do ônibus armado. 

- E não é que era um safado que estava com o papagaio no ombro de uma mulher!!! E ele ainda foi pego com a barriguilha aberta!

Fiquei perplexa! Em pleno século XXI, esse tipo de abuso? 

Para acabar com os bichos soltos nos transportes coletivos, gaiolas neles! Ameaçou levantar voo, gaiola neles!!!!!

Luzia M. Cardoso 
RJ, 08\04\2015

terça-feira, 10 de março de 2015

MULHER, ...



MULHER, ...
Luzia M. Cardoso
RJ, 10\03\2015

Ser mulher em um país de cultura patriarcal, machista e violenta, como o nosso, não é nada fácil. Já na infância, nos cerceiam as brincadeiras, direcionando-as às bonecas, roupinhas, panelinhas e sonhos de Cinderelas à espera do príncipe-sapo encantado, e tudo em variações de  rosa.

- “Carrinhos, piões, pipas são coisa de meninos!”

Dizem as vozes mais conservadoras.

E argumentam:

- “Acham que fica bem meninas pularem a cerca e brincarem de carniça?”

E, assim, quando jovenzinha, a mulher tem que ter comportamento pudico e, para tanto, cuidar do que mostra.

- “Não podem ser fáceis!”

Alertam!

E os meninos? Ah, eles criados como bodes soltos e com o piu-piu pronto para voar e, assim, introjetam a ordem: se acreditam que a menina “deu mole”, creem que podem molhar o biscoito mesmo que tenha sido um engano seu, ou que ela mude de ideia no meio do caminho, afinal de contas, foram levados a crer que "não" quer dizer "sim".

Que loucura!

E segue a história.  Mulheres que não têm namorados, noivos, maridos, companheiros ou um homem ao seu lado são pouco chamadas para eventos sociais onde predominarem casais, pois as mulheres acompanhadas entendem que as desacompanhadas serão uma ameaça.

- “Vai que...”

No trabalho, sempre há o engraçadinho que acha que pode passar uma cantada vulgar, ou deslizar o seu pé, sob a mesa, na perna da mulher, ou tantos outros constrangimentos. E se a mulher, ascende profissionalmente, há a piada infame...

Nos ônibus, trens e metrôs cheios, os pintos soltos acham que podem se aninhar no corpo feminino que se apresenta à sua frente. E nas ruas, tantas outras baixarias.

E a que vem isso? Tem o propósito de, constrangendo a mulher, reafirmar a supremacia masculina, colocando a mulher no lugar que o homem quer: objeto, coisa, mercadoria que se manipulá-la, se apropria e domina.

O pior de tudo é que muitas mulheres reproduzem, às vezes inconscientemente, esse padrão social machista, violento e opressor. E não é à toa que algumas mulheres, quando se desentende com outra, xingam logo de piranha, vaca e puta. Há ainda o "arrombada"!


E o que significa na nossa sociedade ser piranha, puta e vaca? Significa aquela que dá para todo mundo e, se dá para todo mundo, tem pouco valor.

Vejamos o que há sobre vaca, piranha e puta:

O que é uma vaca? É mamífero e se em muitos países fornece leite e carne para os seres humanos (e leite e carne não estão nada baratos!), na Índia é animal sagrado.

Piranha é um peixe carnívoro de água doce e que ataca em grupo. Ou seja, é um peixe predador: ataca e come!!

E puta?

- “Ah, é a prostituta, a que faz sexo em troca de dinheiro.”

Diria alguns. Mas também há referência de que o termo venha do latim e signifique “poda” e que na mitologia romana, Puta seria uma deusa da agricultura e que, à época de poda das árvores, promoveria um bacanal. Vejam que o bacanal era promovido por uma deusa: uma mulher divina!

E arrombada? É o que foi aberto á força!

Ou seja, responsabilizamos aquela que foi submetida à violência?


Insano, não?

Bem, percebemos que os termos tiveram os seus significados distorcidos e tem como objetivo desvalorizar e constranger a mulher, padronizar o seu comportamento, limitar as suas ações, e perpetuar a dominação do homem sobre a mulher, reproduzindo o padrão machista de nossa sociedade.

Então, concluo eu que, ao darem outro significado aos termos, o objetivo foi cercear os direitos da mulher! Certo?


Mulheres, pensem bem antes de chamarem uma outra mulher de vaca, puta e\ou piranha!