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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Das Baratas e Pererecas às Andorinhas e Gaivotas


Das Baratas e Pererecas às Andorinhas e Gaivotas


Às vezes, dou-me a viajar em minhas reflexões acerca do cotidiano da vida no Brasil ... Como são ricas a nossa flora e a nossa fauna, Não é? Nossas aves são lindas e majestosas, embora, algumas estejam ficando raras, pois estão sumindo. E este é o caso de tucanos, araras, dos curiós, tico-ticos, coleiros, do galo de campina, tiês-sangue, corrupião, pintassilgo, bico-de-lacre e tantos outros.

E a ameaça de extinção se deve tanto à caça predatória quanto ao desmatamento.  Lembro-me que em minha infância ainda víamos os biquinhos de lacre pousando em galhos de árvores e mesmo nos fios elétricos das ruas.  Os morros não estavam tão desmatados e ainda havia muitas casas com quintal, jardins e árvores frutíferas.

Por conta da insensatez humana, e da avidez do capital, algumas espécies de periquitos e papagaios também estão em vias de extinção.

Papagaio!!!!

E por falar em insensatez, a humanidade roda numa estranha loucura, não é?

Refletindo acerca da realidade atual e, em particular, das aves, lembrei-me dos pintos. Já pensaram na ternura que a imagem de um pintinho nos remete? Assim também quando pensamos em passarinhos. Dá vontade de acolhê-los.

Já os periquitos e papagaios, não. Eles são belos, mas tememos que sejam deselegantes e agressivos. O mesmo não acontece com os colibris. Alguém já viu algum colibri violar botão de flor? Ah, não, não, não e não!! Eles somente se achegam às flores que já desabrocharam, embora não perguntem se elas querem ou não que se acheguem. Entendem que, se desabrocharam, liberaram geral. Pode até ser que seja assim no mundo das flores ... E como os animais citados são irracionais, eles seguem os seus instintos.

Vejamos as cobras. Cobras dão medo, embora digam que seduzam, elas são predatórias e devoram tudo o que está pela frente. Enrolam, amassam, picam e ... Devoram quando estão famintas ou ameaçadas. As cobras são exibidas em circos e em alguns shows, mexendo com o imaginário de muita gente...

Já os anfíbios não nos causam ternura. Acho que nem medo. Também poucos se interessam em saber se eles estão em extinção ou não, embora, desde décadas passados,  já esteja sendo comprovada a diminuição da população desses seres.

E quem é que pensa em sapo, se não as ingênuas princesinhas, na esperança de descobrirem nele um príncipe encantado, ou as temíveis bruxas que, dizem as más línguas, o utiliza em suas magias.

E as pererecas? Alguém já pensou em proteger uma perereca? Mesmo sabendo da sua importância nos jardins, alguém já cuidou para que pererecas fiquem por perto?

Com as rãs já é diferente. Prato exótico! Há quem as crie para comercializá-las, pois quem gosta, já começa a salivar, pensando em saboreá-las.

De qualquer forma, quando pensamos em pintos e passarinhos vem um sentimento de proteção. "Aiiii, que fofos!!!!" Já ouço. Enquanto que quando nos remetemos às pererecas, franzimos a testa, desejando espantá-las e, se necessário, com vassouradas. “Sai para lá, sua feiosa!” “Lugar de perereca é no brejo, nos pântanos!”.  Significa que, para nós, se pererecas quiserem liberdade, que fiquem lá nas penumbras lodosas.

E nessa viagem louca, cheguei aos insetos. Há os que picam e há os que roam. Pernilongos picam e as baratas roem.  

Alguém já pensou em acolher um pernilongo ou uma barata? Pernilongos são ariscos, traiçoeiros e perigosos! De picada em picada, deixam marcas e transmitem doenças!

E as baratas? O que fazemos quando vemos uma barata? Pensem nas voadoras!!!! Já ouvi pessoas dizerem que baratas nunca deveriam ter asas. “Cortemos as asas das baratas!” Gritariam muitos. “Chineladas nelas!” Se apresentam outros.

Temos ainda as borboletas, mariposas e libélulas. Interessante, porém que embora a maioria das espécies voe à luz do dia, há quem imagine que elas saiam apenas à noite. Associam-nas ao exótico, talvez devido à metamorfose. Embora belas, ainda há muito mito e preconceitos em torno delas.

E, viajando nessa "vibe", lembrei das metáforas infames e das mensagens subliminares que tais metáforas nos transmitem, levando-nos a acreditar que uns devem ser criados livres e soltos, mesmo que sejam predatórios, enquanto outros, apesar de inofensivos, devam ter espaços e movimentos cerceados.

Sabe de uma coisa? Basta de castração! Basta de repassarmos essa ideologia repressora! Metáfora por metáfora, em vez da relação com o desprezo  e com o asco que nos remete a ideia das pererecas e baratas, façamos a associação com a dignidade, com a desenvoltura e com a beleza do direito à liberdade das andorinhas e das gaivotas!

Luzia M. Cardoso
RJ, 10\04\2015

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