Nesta semana que anuncia o Natal de 2016, veio à minha cabeça a vida do peru destinado à ceia de alguns felizes brasileiros que amam saboreá-lo, mas que não sabem que o Brasil é um dos maiores produtores mundiais da santa ave.
Ave, peru!
Peru vive em bando e é criado em galpões. A ração é medida de engorda para peso em ouro. A vida do peru de Natal tem, exatamente, vinte e oito semanas ou cento e noventa e seis dias ou quatro mil, setecentos e quatro horas de rotina cerrada: acorda, anda, cisca, engole, caga, trepa e dorme até a hora fatal, quando será embrulhado em papel brilhante e trocado por cerca de R$ 10,00 o quilo por alguém que deseja saboreá-lo na ceia de Natal.
Contudo, 2016, não foi o ano do peru. No Horóscopo Chinês, 2016 foi o ano do macaco. No jogo de Bicho, 20 é peru e 16, leão. Por outro lado, 2+0+1+ 6 = 9, que é cobra. Nesse baile, roda o peru e dança o macaco.
Agora, com golpe, Constituição e CLT despedaçadas, PEC, reforma no ensino, reforma na Previdência, tudo isso curtido na penúria da falta de salário e aromatizado por spray de pimenta e gás lacrimogêneo, 2016 trava na goela como um sapo.
Acontece que, em outubro de 2015, foi apresentado ao povo brasileiro o animal que regeria todo o ano de 2016: o pato.
Pato plagiado, financiado, plastificado, falso, inflado, indigesto... O pato que se sobressaiu aos ratos e aos gatos dos becos e bueiros da Av. Paulista. O pato que foi jogado na cara refletida no espelho de cada cidadão e de cada cidadã brasileiros.
Podemos concluir que 2016 foi o ano do pato e em todos sentidos: amplo, restrito, real, virtual, literal e figurado
Por coerência, brasileira que sou, creio que o prato principal de nossa ceia de Natal deva ser Pato no Tucupi: marinado na chicória e limão; caprichado no alho e na pimenta; fatiado, pedaço a pedaço; assado na panela, para amolecer; finalizado no forno, para dourar!
Bon appétit!
Feliz Natal!
Luzia M. Cardoso
Rio de Janeiro, 18 de dezembro de
2016