Vereadores da Câmara Legislativa do Município do Rio de Janeiro; Deputados
da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro; Secretários e Ministro
da Pasta do Meio Ambiente
Venho por meio desta falar da importância do Parque Ary Barroso e de sua
integração a outras áreas verdes situadas na região da Leopoldina.
Sou moradora da Penha desde os 13 anos de idade e, naquele Parque, pude
vivenciar os melhores momentos de minha infância. Lá, pude brincar de bola,
peteca, corda, boneca, correr por aquele campo verde, rolar na grama,
maravilhar-me com o canto de pássaros, descobrir ninhos caídos pela relva, joaninhas,
borboletas esperanças... Esperanças.
Junto à minha e a outras famílias, ouvia verdadeiras aulas ao ar livre sobre
plantas, a importância da Serra da Misericórdia para o ecossistema da região,
sobre os reinos vegetal, mineral e animal.
Naquele local, à época cursando as séries do que hoje denominam de
Ensino Fundamental, conseguia visualizar, e assim entender, a diferença entre insetos
e anfíbios, ao observar e conversar com adultos e colegas sobre sapos, pererecas,
formigas, louva-deus... Louva-Deus.
Lá, a família, naturalmente, cumpria algumas de suas funções na
socialização e na educação de crianças e adolescentes. E o que é mais
importante, de forma lúdica.
E foi assim que, chegando à juventude, ia para aquele Parque estudar,
encostada em árvores antigas, de generosa copa. Lá, também encontrei e fiz
muitos amigos, como conheci a história de Ary Barroso que dá nome ao Parque,
bem como a sua importância na música popular brasileira.
E por ter tido o privilégio de conviver, no Parque Ary Barroso, com
pessoas de gerações diferentes, já que lá se reuniam famílias, cresci ouvindo
muitas histórias, fantasias e sonhos de crianças, jovens, adultos e idosos e,
com esta convivência, aprendi a respeitá-las em suas diferenças. Sim, lá,
naquele Parque, eu tive aula de respeito à natureza, aos idosos, aos mais
velhos, às etnias, à diversidade. Verdadeira aula de cidadania, com os
frequentadores do local. Pois é a convivência, é a relação entre gerações e é a
aproximação do homem com a natureza que possibilita o respeito.
Percebia, também, a labuta de muitos chefes de família, pois lá, naquele
Parque, muitos pais e mães garantiam o sustento de sua prole, vendendo bola,
peteca, algodão doce, pirulito, pipoca etc.. Exerciam um trabalho digno e
levavam os filhos, carregando para lá os alimentos para serem repartidos com os
mesmos. Enquanto trabalhavam, eles viam os filhos sorrir, correr, brincar, alimentando
corpo e alma. Percebiam os olhos reluzentes de felicidade e orgulho daqueles
pequenos rostos corados e marejados de suor indo ao encontro do suco, da fruta
e do café com leite e isso durante as horas de trabalho dos seus responsáveis.
E ao mesmo tempo eu crescia, e me envolvia com as responsabilidades do
mundo adulto – que, infelizmente, afastou-me do tempo da poesia que o Parque
emanava – e assim vivenciei o seu fechamento gradativo: a água da fonte
desviada, os lagos secando, os peixes morrendo, o mato crescendo, crianças e
jovens sumindo, se afastando por medo do que lá passava a ocorrer, até que seus
portões foram fechados ao público. E hoje, com muita tristeza vejo o Parque se
perder e temo que para nunca mais.
A violência da região foi controlada com as intervenções pacificadoras,
contudo, aquele Parque não foi revitalizado, ao contrário, lá se instalaram
equipamentos municipais e estaduais que descaracterizam o local. Evidentemente
que sei da importância da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do Centro de
Referência da Assistência Social (CRAS), da Arena Carioca, da Base da Unidade
de Polícia Pacificadora (UPP), mas não ocupando parte da única área verde
daquela região.
No momento em que o mundo começa a se conscientizar da importância da
natureza na preservação e na promoção da saúde da humanidade e no momento em
que a sociedade começa a perceber que há necessidade de garantir espaços de
convivência e lazer para crianças, adolescentes e idosos, vejo degradar uma importante
área verde, que se encontra agonizando no coração da Penha. Uma ampla área
verde, de 50.000 m², onde foram plantadas 130 espécie de árvores cuja floração
ocorre em época alternada; onde foram instalados equipamentos de recreação
infantil e quadras esportivas; uma área onde a placa, fixada em frente ao seu
portão principal, informa que fora “destinada a servir de área de recreação aos
moradores do subúrbio carioca” e, por sua importância, fora tombada como
patrimônio histórico, já no ano seguinte de sua criação.
Exmos. Senhores, em 2003 houve a elaboração de um projeto de
revitalização do Parque, contudo, até hoje ele permanece abandonado. Percebo,
todavia, ser urgente a revitalização de toda a extensão original do Parque Ary
Barroso, como também a reativação da fonte, dos lagos e a sua imediata devolução,
com portões abertos, segurança garantida, conserto, ampliação e manutenção de equipamentos
de esporte, atividade física e lazer para a população infanto-juvenil, adulta e
idosa do município do Rio de Janeiro. Que lá possamos, novamente, estar com os
nossos filhos, netos, amigos, fazer as nossas caminhadas, exercícios, piqueniques.
Que lá, no Parque Ary Barroso, as crianças voltem a correr, pular, rolar na
grama, brincar de pique, bola, ficar ao ar livre e descobrir que o verde existe
e está tão próximo delas. Que os jovens voltem a se enamorar e sentir seus corações
palpitar com a poesia do local.
O Rio de Janeiro é uma cidade com forte potencial turístico, não apenas
nos locais conhecidos como as praias da zona sul e Serra da Tijuca. O potencial
econômico do turismo da cidade e do estado é muito maior, pois tem equipamentos
naturais, históricos e arquitetônicos que possibilitam várias modalidades de
turismos (esportivo, cultural, entretenimento etc.).
Na região de que neste momento trato, percebo que há grande potencial para
o Ecoturismo na Serra da Misericórdia. Nela, há uma reserva florestal, uma Área
de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana, APARU, que precisa ser
regulamentada; há ainda um lago que surgiu da cratera aberta pela exploração de
mineradoras e, integrando nesse complexo o Parque Ary Barroso e o Santuário da
Penha, nós teríamos não apenas a revitalização de uma importante área verde no
meio urbano, mas a humanização de toda a região, possibilitando novas fontes de
renda e dinamizando a economia local. No local poderia ser incentivada a
caminhada, aulas ao ar-livre promovidas por escolas, o desenvolvimento de
esportes.
Interligando, por ciclovias, os
equipamentos existentes: a Fazendinha (Área de Proteção Ambiental na Penha onde funcionam
algumas unidades de ensino); o teleférico do Complexo do Alemão; em Bonsucesso, o Castelo Mourisco e o Museu da Vida (da Fundação Oswaldo Cruz); em Manguinhos, a Quinta da Boa
Vista; em São Cristóvão, o Museu do Índio, estádio Célio de Barros, Maracanã e o Parque Aquático Júlio Delamare. Tudo integrado promoveria a saúde, a cultura, o lazer, o bem-estar e a sociabilidade
das gerações que moram e passam pelos vários bairros da Região da Leopoldina. Evidentemente que tal projeto, com esta amplitude, necessitaria de esforços conjuntos da sociedade civil e das três esferas de governo, mas garantiria uma
qualidade de vida muito
melhor para
todos os
cidadãos cariocas.
Neste sentido, peço especial atenção de todos os Exmos. Senhores para:
1 – Revitalização, renovação dos equipamentos, manutenção e devolução da
área verde original do Parque Ary Barroso aos cidadãos cariocas;
2 – Regulamentação da APARU da Serra da Misericórdia;
3 – Integração, por ciclovias, entre o Parque Ary Barroso, Santuário Nossa
Senhora da Penha, Fazendinha, o teleférico do Complexo do Alemão, Castelo Mourisco
e o Museu da Vida, Quinta da Boa Vista, Museu do Índio, estádio Célio de
Barros, Maracanã e o Parque Aquático Júlio Delamare.
4 – Incentivo ao ecoturismo na Região
Nota
importante: Tratando-se de assunto de interesse social, e pelo fato de
apresentar uma percepção individual, considero importante dá-lo a conhecimento
público.
Atenciosamente,
Rio de
Janeiro, 04 de agosto de 2013
Luzia
Magalhães Cardoso
PARQUE
ARY BARROSO
Criado em 13 de dezembro de
1964, situado no quarteirão entre a Rua Flora Lobo e a Av. Brás de Pina, em frente
ao Viaduto XXIII, Penha, RJ.