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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Crónicas de Portugal - Da sábia criatividade dos povos


Crónicas de Portugal


Da sábia criatividade dos povos
José-Augusto de Carvalho


Hoje, qualquer pessoa sabe o que é viver numa grande cidade ou numa localidade de pequena ou reduzida dimensão física  e populacional. Os tempos são outros, a Informação (jornais, rádios e televisões) chega a toda gente.

Em qualquer povoação, há dificuldades, específicas do lugar. E quem lá vive terá de, pessoal e colectivamente, tentar solucionar os problemas. E é certo que quem vive isolado ou voluntariamente se isola terá problemas acrescidos e mais dificuldades em solucioná-los.

Sabemos que há apoios estatais e municipais, apoios que resolvem ou minimizam muitos problemas; mas outros há não considerados pelas autoridades civis; e é aqui que as populações se protegem criativamente, melhor ou pior, evidentemente. Uma coisa é certa, quanto mais uma sociedade se assume solidária, mais reduzidos são os problemas.

Sabiamente, o povo cria colectividades recreativas, nas quais promove bailes, grupos de cantares e danças regionais, aprendizagem de artesanato, projecção de filmes, encenações e representações teatrais. Aí se cruzam todos ou quase todos os habitantes, constituindo uma família. E com esta família surgem auxílios para solução de muitos problemas quotidianos: é o «hoje por mim, amanhã por ti».

Para além das colectividades recreativas, outras associações surgem: os bombeiros voluntários locais; as cooperativas de consumo; os centros de dia para crianças e idosos; os centros de recolha e redistribuição de vestuário e mobiliário usado, etc.

Estas realidades sociais são muito comuns nos pequenos aglomerados populacionais.
As cidades de grande dimensão conseguem tb criar estas vantagens quando divididas por bairros onde as pessoas estão radicadas há gerações; os chamados bairros novos, onde ninguém conhece ninguém, são dormitórios apenas.

Nos bairros dormitórios grassa o isolamento, a solidão, a improvável solidariedade do vizinho, porque, não conhecendo, ignora o que se passa, numa defesa inconsciente de perigos imaginados ou reais.

É um dado adquirido que a maior solidão existe nas grandes cidades, exactamente porque ninguém conhece ninguém.

Há muito que os sociólogos clamam no deserto contra as grandes cidades. E têm razão. Nelas prolifera a desgraça, seja a criminalidade, seja a prostituição, seja o abandono, seja qualquer outra mazela social.

Quem viveu as duas experiências, a da cidade grande e a da povoação pequena, poderá esclarecer.

Eu tive a experiência de viver dezenas de anos em Lisboa; antes tive a experiência de viver numa povoação pequena. Quando pude decidir, optei. E a opção foi o regresso à povoação pequenina, para sempre.

Portugal, Viana do Alentejo - 26\11\2014