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domingo, 22 de janeiro de 2012

Praça




Praça


         Não, não falarei agora de nenhum amigo meu... Grande camarada... Embora a saudade me aperte... Nem tampouco do raso soldado desta pátria, com suas vestes brancas, azuis ou verde-oliva, formado no compasso do refrão, com o futuro fora do alcance da visão.
         Se pensas que descreverei aquela nossa praça... O largo no meio às ruas convergentes, que no passado juntava tanta gente... Os anciãos, livros de tantas memórias... A juventude que escrevia a própria história... Ah, e tantas crianças com bonecas e piões... E quantas dobras palpitavam corações, vincando bilhetes que prometiam emoções... Tinha coreto, jornal do dia, algodão doce... E as pipocas que estouravam entre olhares e acenos das janelas, abrandando almas que caminhavam solitárias... Daquela praça, sopra-me a brisa fresca que chega sorrindo nas lembranças que me afagam... 
          Não, não é desta praça que falo, pois a praça que hoje vejo é sutil, brilhante e muito mais ampla... Do largo do passado trouxe as frestas... Nem sempre estou à toa quando abro minha janela e vejo circo, bandas, procissões e funerais... E ali no meio, vibro e sinto com o que passa por ela.
      A praça de que falo herdou os bancos, embora presos entre quatro paredes. Privados, não se expõem ao tempo... Não brilham mais com a aura do luar e não queimam, não têm o calor da luz solar. E essa praça é tão real e diferente... As novidades borbulhando em muitas mentes adolescentes que questionam o adulto que apresenta a SOPA (Stop Online Piracy Act), olhando desconfiados para a PIPA (Project IP ACT) que ameaça o espaço.
      Nessa praça correm notícias... E nisso, mantém a natureza da de antes, que hoje agoniza deserta, vazia e sem poesia... Na nova praça há também rodas distintas: tem as de papo-cabeça; as do buraco e biriba; os games despertando adrenalina e muitas risadas da garotada... Ahhh, e tantos flertes e paixões, em matizes que disparam corações... E alguns amantes, como outrora, que na calada da noite, correm furtivos, ocultos... Vão buscar outros prazeres, pulando janelas... E na praça, os mesmos riscos daquela velha língua de Matilde.
       Mas se toda praça é terreno de litígios e comunhão, a de hoje não limita a dimensão... Não tem fronteiras em nenhuma direção e nas janelas, debruça gente de tantas nações. E se exagero terminando o texto em “ão”, muito antes de à nova era eu estar dizendo não, nas entrelinhas, uma questão... 

Luzia M. Cardoso
Rio de Janeiro

Siglas:

PIPA: Project IP ACT - Ato para Proteção da Propriedade Intelectual.

SOPA: Stop Online Piracy Act - Lei de Combate à Pirataria Online.


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