Início de ano: IPTU, material e
uniforme escolar, quota anual do Conselho, IRPF... E tudo numa abocanhada só,
como se não tivéssemos as despesas inerentes à vida de todo dia: alimentação,
transporte, vestuário, taxas de água, luz, gás etc. etc. E no Rio de Janeiro,
temos ainda o IPVA, cujo valor está entre os quatro mais altos cobrados no
Brasil.
Cumpri a minha parte, ou sina, pagando todos os impostos. Mas eis que chega março, e com ele as suas águas
“fechando o verão”, sem trazer brisas na inflação. E foi assim que passei pelo
dia 6 de março, passei pelas águas. Água por todos os lados. Água clara, água
turva, com lixo e dejetos. Água que caia do céu, que espirrava do lado, que
puxava no chão. Precisei parar e aguardar a chuva abrandar e a água escoar para
prosseguir, logo após, em segurança.
Enfim, duas horas após, cheguei ao
meu “porto seguro”. Estacionei o carro, peguei o guarda-chuva e fui descansar,
em casa. Longo dia, longa noite. Muito estresse.
No dia seguinte, retorno à rotina: acordar,
organizar-se, pegar o carro para trabalhar e... Qual não foi a minha surpresa!
Deparei-me com o sumiço da placa dianteira de meu veículo. As águas a levaram, pois na noite anterior, as
ruas viraram rios. Encheram, devido ao lixo, às obras da prefeitura, à precária
rede de águas pluviais, ao assoreamento de rios e riachos, à falta de cuidados
para com a nossa cidade. E por ter passado por tantas ruas alagadas,
certamente, a minha placa dianteira saiu boiando.
E amanheci, no dia seguinte, tendo que
fazer nova placa, pagar mais dois DUDA’s (um valor para a confecção de perdida
e outro para a tarjeta que informa a cidade e a numeração) e sob o risco de ser
multada pela falta da placa dianteira.
Liguei ao órgão responsável para
seguir as orientações. Paguei tudo e fui ao mais próximo.
Ah, tem dias que deveríamos pular.
Cheguei ao local indicado e, depois de aguardar a fila, com muitas pessoas com
placas perdidas nas enchentes, chega a minha vez. E me pedem os seguintes
documentos, com cópia: DUDA’s pagos e já compensados, carteira de identidade,
CPF e documento comprovando o endereço do local de residência.
Quando pedi orientações ao telefone,
não haviam me informado da necessidade dos tais documentos, no entanto, a meu
ver, eu tinha tudo, todos os originais, faria as cópias na loja ao lado e, com
relação ao comprovante de residência, o documento do carro era um. Mas assim
não compreendia aquele órgão público. Cobrava-me o último documento, o
comprovante de residência. E eu argumentava:
- Meu licenciamento anual do carro
está em dia. Nele consta também o meu endereço. Por este endereço recebo as
multas, quando as cometo. Tal documento foi emitido por vocês, um órgão público
e idôneo e não serve?
E para a minha surpresa, ouvi:
- Não. Precisa ser algum comprovante de
residência que chegue à senhora pelo malote da Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos.
Não acreditei. Parecia pegadinha.
Então, só me restava ir até a minha casa e pegar uma conta de luz ou telefone. Olhei
o relógio. 14h:45min, então perguntei:
- Até que horas vocês funcionam?
Responderam-me:
- Até ás 19h, mas a senhora deverá
estar aqui até às 15h.
Tive que rir. No trânsito do Rio, só
de helicóptero. De onde estava à minha casa eram cerca de 20 km para ir, mais 20 km para
voltar. Percorrendo o trajeto fazendo, em média, 60 km\h, acrescentando o tempo de parada nos sinais de trânsito e das retenções,
precisaria, no mínimo de 60 minutos para a tarefa.
Argumentava daqui, contra
argumentavam de lá. A hora passando... Até que meio que vencido, o funcionário
faz contato com outro e estende o horário até às 18h. Segui o meu rumo, com os
funcionários da prefeitura ainda nas ruas para limpá-las, pois havia de tudo no
caminho, de terra a árvores caídas. Consegui fazer o percurso, ida e volta em tempo
menor do que me deram, pois retornei ao órgão público às 17h.
Estacionei e dirigi-me ao guichê com todos
os documentos originais e suas respectivas cópias, além dos DUDAs pagos, e
pagos em dinheiro e no banco que recebe para o órgão e... Ah, a funcionária me
avisava que o sistema ainda não informava ter recebido meu depósito. Tive que aguardar, pois o tal sistema foi
reconhecer o meu pagamento por volta das 18h.
Com o sistema ciente de meu
pagamento, eu fui chamada pelo nome ao guichê e recebo um papel com o número de
minha placa e a orientação para dirigir-me a outra porta. Segui a indicação,
entreguei o tal papel a outro funcionário, aguardei a confecção da placa, levei
o meu carro para onde me indicaram para prenderem a fugitiva ao seu lugar em
meu automóvel. Chega a hora do re-emplacamento dianteiro de meu carro. O funcionário
conferia a placa e a tarjeta. Sentindo falta de algo, me indagou:
- Senhora, cadê os parafusos?
Não entendi, ou não acreditei no que
ouvia. Questionei:
- A placa não vem com os parafusos¿ O
pagamento da placa e da tal da tarjeta não incluía as porcas e os parafusos?
Ouvia como resposta, de forma simples,
direta, de forma muito educada e com voz calma, a fala mais lúcida daquelas horas:
- Não, aqui não temos nem porcas e
nem parafusos.
Não consegui conter o riso, pois caía a ficha. Se faltavam porcas e parafusos, tudo o que vivi fazia muito sentido.
Luzia M. Cardoso
RJ, 10\03\2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário