O ÓPIO NOSSO DE CADA DIA
Luzia M. Cardoso
Passando pela Av. Brasil, entre Ramos e Bonsucesso, na bela cidade
maravilhosa quando, de repente, meu pé afundou, sobressaltado, o freio do carro.
Santo Deus, essas pessoas não temem o perigo?
Recuperada do susto, segui, observando os pedestres também seguirem o seu
destino. Imediatamente, as minhas memórias me levaram ao livro de Moema Viezzer,
“Se me Deixam Falar”, que deu voz à Domitila, mulher de um trabalhador das minas de
carvão, na, então, ditadura boliviana.
As cenas dos trabalhadores seguindo serializados, em fila indiana, percorrer os corredores das cavernas úmidas, escuras, insalubres, ar rarefeito e com risco de desabamentos, por eles próprios escavadas e com eles mesmos se esforçando para manter amparados o teto e as paredes, no dia a dia da labuta pelo pão.
Logo lembrei dos muitos trabalhadores bolivianos sucumbindo por nuvens aspiradas de carvão, pelos canudos rotos dos parcos salários e das precárias condições de vida.
A voz de Domitila parecia levar às telas de minhas retinas as cores daqueles dias carregados do breu do carvão que tantos e tantos trabalhadores expeliam quando prestes a embarcar no último trem daquela viagem.
Ah, eles não temiam! Por não temerem, entravam, todo dia, dia após dia, naquele buraco da mina de carvão e lá permanecendo por longas jornadas, sentindo as paredes, o teto e o chão tremerem.
Entre eles, era habitual o uso da folha de coca para amortecer a dor do trampo. A coca e o dia a dia cavando buracos, aspirando carvão, olhando de esguelha a morte, ali, a espreitá-los... Uma vida pior que a vida de um cão sarnento abandonado nas ruas de qualquer metrópole.
De volta à Av. Brasil segui pensando: - Que buracos denunciam as pedras que insistem em rolar por esta e por outras vias, entre os tantos desvios deste tão pouco nosso Brasil? Que tipo de ópio consomem aqueles que insistem em não enxergar?
As cenas dos trabalhadores seguindo serializados, em fila indiana, percorrer os corredores das cavernas úmidas, escuras, insalubres, ar rarefeito e com risco de desabamentos, por eles próprios escavadas e com eles mesmos se esforçando para manter amparados o teto e as paredes, no dia a dia da labuta pelo pão.
Logo lembrei dos muitos trabalhadores bolivianos sucumbindo por nuvens aspiradas de carvão, pelos canudos rotos dos parcos salários e das precárias condições de vida.
A voz de Domitila parecia levar às telas de minhas retinas as cores daqueles dias carregados do breu do carvão que tantos e tantos trabalhadores expeliam quando prestes a embarcar no último trem daquela viagem.
Ah, eles não temiam! Por não temerem, entravam, todo dia, dia após dia, naquele buraco da mina de carvão e lá permanecendo por longas jornadas, sentindo as paredes, o teto e o chão tremerem.
Entre eles, era habitual o uso da folha de coca para amortecer a dor do trampo. A coca e o dia a dia cavando buracos, aspirando carvão, olhando de esguelha a morte, ali, a espreitá-los... Uma vida pior que a vida de um cão sarnento abandonado nas ruas de qualquer metrópole.
De volta à Av. Brasil segui pensando: - Que buracos denunciam as pedras que insistem em rolar por esta e por outras vias, entre os tantos desvios deste tão pouco nosso Brasil? Que tipo de ópio consomem aqueles que insistem em não enxergar?
RJ, 02\03\2012
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