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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Profissão Pedreiro






Profissão Pedreiro





Muitos operários da construção civil aprenderam o ofício com outros operários, seus mestres, na função de aprendizes (ou de serventes, na indústria de construção civil, como são qualificados). E no processo histórico, muitas profissões de nível superior, como o engenheiro e o arquiteto, surgiram da evolução de muitos ofícios do passado, num processo de aperfeiçoamento do trabalho. E não é por acaso que, ainda hoje, muitos pedreiros sejam formados fora das escolas, acompanhando mestres, de forma que o "como fazer" passa de geração a geração.

Embora, há algum tempo, escolas técnicas também venham formando novos profissionais através de cursos profissionalizantes, a exemplo do curso de edificação, a importância social do mestre, lá nos canteiros de obra, para o processo de formação de novos operários é indiscutível.

Contudo, se por um lado as escolas e cursos profissionalizantes não são de tão fácil acesso e tampouco garantam a possibilidade de estágios, propiciando o exercício da prática, por outro lado, nem todos os operários com conhecimento para serem mestres, trabalham com auxiliares, eliminando, assim, os gastos com o pagamento dos mesmos.



Como trabalhador assalariado, um operário da indústria de construção civil, com jornada de 40 horas semanais, recebe na faixa de 1 a 2 salários mínimos e, com frequência, reside distante do local da obra, de forma que o transporte acaba pesando nos seus gastos do dia a dia.



Não só a indústria de construção civil carece desses profissionais, no cotidiano de uma pequena empresa, de comércio, dos condomínios e de unidades residenciais, com frequência, há a demanda por seus serviços. Sempre há a necessidade de pintar ou repintar, trocar piso, corrigir paredes, reformar cômodos, resolver um vazamento etc.



E aí é que o problema, inicialmente restrito às famílias operárias, chega à toda sociedade. A falta de acesso ao ensino profissionalizante, a dificuldade de estágios, levando ao não acesso a profissionais qualificados, as dificuldades de um trabalhador iniciante conseguir entrar no mercado de trabalho, retardando o exercício da prática profissional, os baixos salários de quem está no mercado de trabalho, bem como a falta de instituição séria para ser a referência na indicação de profissionais, faz com que chefes de famílias, sejam eles homens ou mulheres, fiquem expostos aos trabalhos de maus profissionais e correm ainda o risco de se verem diante de falsos operários. O trabalho realizado por falsos ou maus profissionais gerará novos problemas àquele chefe de família que caiu no canto da sereia, pois terá novos gastos e novas dores de cabeça.


E como ter a certeza de escolher o profissional qualificado com preço justo? 

Muitos diriam, "Busque conhecer o trabalho que já realizaram". Quando é possível, sim, é uma forma. Talvez outros sugiram, "Peça referências no sindicato de trabalhadores da construção civil". Quando se consegue falar com o setor responsável pelo "Apoio Social" aos sindicalizados, pode ser uma ideia. Mas quem fiscaliza o trabalho desses operários, quando realizado de forma autônoma? Quem protege o cidadão do trabalho mal feito e negligenciado? Quem arca com os prejuízos do chefe de família e do pequeno comerciante que, por não saber como confirmar a qualificação profissional, contrata um operário não qualificado para resolver um problema e, em troca, ganha muitos outros? 

E os preços que cobram esses mesmos operários quando são chamados para trabalho autônomo? Não há critérios, não há tabela, não há contrato. Assim, para um mesmo serviço de pintura em um cômodo de 3 m², um operário cobra R$ 400,00 e o outro R$ 1.500,00. Se considerarmos que a pintura de um cômodo de 3 m² será feita em 8h de trabalho, um cobra R$ 50,00 por essa hora e o outro, mais de R$ 100,00

E eu fico também a me perguntar: Porque um operário da construção civil se submete aos baixos salários ofertados pelas indústrias e cobram preços injustos e injustificáveis aos chefes de famílias e aos pequenos comerciantes que demandam por seus serviços?

Que critério têm o operário da construção civil em concordar que lhe pague pela hora de trabalho, em troca de sua carteira assinada e de alguns direitos trabalhistas e previdenciários , o valor de menos de R$ 4,00 e cobrar dos chefes de família, trabalhadores como eles, por essa mesma hora de trabalho, o valor de mais de R$ 50,00?

Vemos, assim, que se por um lado os operários ficam nas mãos do patrão quando assalariados, quando não fortalecem o próprio sindicato para defenderem-se, a população, na atual conjuntura do "salve-se quem pude", fica a mercê dos mesmos, quando o contratam como trabalhadores autônomos.

Que sociedade é esta que nós, povo brasileiro, estamos construindo?

O que fazem os sindicatos e os partidos operários? Cadê o trabalho político? Cadê a consciência operária? Cadê a organização desses trabalhadores a fim de coibir a ação de falsos pedreiros e de advertir os maus profissionais, garantindo o respeito e a confiança da população.

Profissões de nível superior e algumas de nível técnico têm Conselhos profissionais que fiscalizam e regulam a atividade profissional, seja ela realizada de forma autônoma ou assalariada. E ofícios como o de pedreiro, não tem forma alguma de regulação? Se não tem, na minha opinião, os sindicatos poderiam fazer esse trabalho e, assim também estariam próximos aos futuros profissionais, tendo a possibilidade de politizar as novas gerações.

Enquanto o Brasil fica nessa situação em que ninguém confia e ninguém, iludem-se os que creem que o país está dividido em classe A, B, C, D, etc. Iludem-se os que acreditam que tais classes se medem por renda per capita e consumo. 

No Brasil, nas sociedades capitalistas, quem não vive da exploração do trabalho, vive da venda de sua força de trabalho. Neste sentido, ou se é patrão (direta ou indiretamente, como aqueles que aplicam em ações) ou se é trabalhador. Ou o trabalhador constrói a sua consciência de classe e, como sujeito coletivo, luta para mudar essa ordem societária, ou se sujeita às consequências dessa sociedade que se desestrutura e se perverte.


Luzia M. Cardoso 

RJ, 13\01\2014

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