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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Ainda Sobre os Atalhos no Caminho da Educação



Ando refletindo, há muito tempo, sobre a importância que a sociedade dá aos símbolos e às cerimônias do processo educativo, como aos apetrechos dos rituais de colações de graus, e como essa mesma sociedade acaba desprezando o que, de fato, toda essa simbologia deveria representar: o conhecimento. 
No longo trajeto da Educação, becas e canudos representam a aquisição de mais um pouquinho de conhecimento. Apenas mais um pouquinho, e nada mais. 


Todo ritual de passagem, de um grau para o outro, de um degrau para outro degrau dessa infinita escada do conhecimento, serve não apenas para enaltecer aqueles que se graduam mas, antes de tudo, são rituais que existem para revelar à sociedade o nível de responsabilidade que tais pessoas passam a ter na intervenção da realidade. 
Sim, cada grau grau que adquirimos, na caminhada do conhecimento, informa à sociedade o nível em que estamos nessa escada, na escada do conhecimento. 

Assim, ao concluirmos as nove séries iniciais do processo de Educação, os símbolos informam que adquirimos, apenas, o conhecimento fundamental para a vida. Assim, como informam os símbolos, a nossa responsabilidade, na intervenção e na transformação da sociedade em que vivemos, se dará somente no cumprimento de tarefas que não exigem conhecimento além. 
Quando concluímos o segundo grau comum, ganhamos os símbolos que representam que, agora, além do conhecimento básico (ou fundamental) temos conhecimento de nível médio, ou mediano. Nada além.

Se concluímos um ensino técnico, os símbolos informam que devemos ter mais responsabilidades na sociedade em que vivemos, pois eles representam conhecimentos que contribuem para o manuseio de ferramentas mais complexas, usadas na intervenção da realidade e que deverão ser usadas pra satisfazer as necessidades sociais. Agora, com ensino técnico, nossas responsabilidades são ainda maiores. Significa que nós não nos diplomamos para nós mesmos. Nós nos diplomamos para o trabalho coletivo e cada diploma nos dá novas responsabilidades e informa, aos outros, o quanto podemos e devemos fazer pela sociedade.

Nos níveis acima (superior: bacharelados e licenciaturas), pós-graduação lato senso (especializações) e estricto senso (mestrado, doutorado, PHD) essa responsabilidade dobra, triplica, quadruplica, se eleva ao quadrado e à enésima potência, conforme os graus que colamos no peito, conforme os degraus que subimos nesse caminho que se projeta em escada.

As pessoas de nível médio têm o dever de dominar, demonstrar e saber aplicar os conhecimentos que adquiriu ao concluir os dois níveis do trajeto (fundamental e médio). Tal responsabilidade deverá ser observada tanto na forma de interpretar e intervir na realidade, como na forma de revelá-la aos outros, seja por meio da linguagem falada ou da linguagem escrita. Seguindo este raciocínio, mais se exigirá das pessoas que acessam os degraus mais elevados da escada do conhecimento. Quanto mais alto for o grau de saber de uma pessoa, quanto mais símbolos do conhecimento ostentar em seu peito, maior será a sua responsabilidade no domínio e na utilização do conhecimento geral e do conhecimento específico, pois a sociedade está nas mãos dos técnicos, dos bacharéis, dos licenciados, dos especialistas, dos mestres, dos doutores e dos PHD's.

Agora, como fica a sociedade quando ela valoriza canudos, becas e rituais e estimula o uso de atalhos? Parece que estão inventando o elevador para se chegar mais rápido ao topo do conhecimento. Parece que criaram um topo, e portanto, um final, para o conhecimento que é infinito.

E por se enganarem, vemos pessoas que procuram elevadores... e colam em provas, e plagiam, e compram trabalhos e... e... e... E aí a sociedade se vê na mão de técnicos, graduados, pós-graduados que, se mal dominam o conhecimento exigido nos níveis iniciais da escada do saber, muito menos conseguem sustentar o conhecimento que seus títulos nos dizem que eles têm.

Por isso, fico cá com os meus botões: - Não podemos restringir o conhecimento à aquisição de canudos e ao protagonismo de rituais. Os rituais têm hora para acabar, os canudos as traças vão devorar... E o saber? E o saber?

Mais um momento meu de "fica a dica".

Luzia M. Cardoso 


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