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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Alemanha 7 X Brasil 1: Procura-se o Bode Expiatório


Alemanha 7 X Brasil 1: Procura-se o Bode Expiatório


É quarta-feira, dia 09 de julho de 2014, e o povo brasileiro acorda sem querer levantar. Reúne forças, faz das tripas as ataduras para as feridas do peito e da alma.

O povo sai para a lida. Para a lida nas fábricas, nos bancos, no comércio, no setor de serviços, no trabalho informal...  O povo volta para a lida de todo dia. O povo brasileiro retorna ao tronco do trabalho precário, dos baixos salários, dos transportes de massa abarrotados, da marmita fria, da escola largada, dos hospitais com emergências fechadas, das calçadas com crianças e adolescentes entorpecidos. O povo volta ao tronco na névoa do spray de pimenta que toma na cara sob a bombas de efeito moral largada no estádio do Mineirão pela Seleção Alemã... O povo volta passivo para o tronco e vai de olhos baixos que retornam ao chão ao peso do placar de 7 a 1 na arena mineira da "Copa das Copas".

Perdemos o sonho de ter em mãos o troféu da cor do nosso ouro, o troféu de valor de muitas de nossas pedras preciosas juntas. Do ouro e das pedras das MInas Gerais.

Acordamos, nesta quarta-feira, em meio a um pesadelo bizarro, inacreditável. A seleção pentacampeã perdeu de 7 a 1 nas Minas Gerais. Na arena denominada de Mineirão.  E quem é o culpado?

Alguns dizem que a culpa é do técnico que não soube escolher os jogadores e que se utilizou de ultrapassada estratégia de jogo. Outros acreditam que perdemos porque a estrela maior de nosso time e o nosso capitão não puderam jogar. A pequena burguesia - aquela que vive estendendo o tapete para a burguesia passar e que confunde o povo para continuar recebendo benesses- atribui a derrota ao povo brasileiro, dizendo que somos indolentes, malandros, que não queremos estudar, que somos o povo do jeitinho e que gostamos de viver ociosos na rede do Bolsa Família. Para esses últimos, caso Deus seja mesmo brasileiro, eu rogo "Oh, Senhor, perdoa-os! Eles não sabem o que dizem." 

Acordamos, como acordamos todos os dias, tendo na primeira refeição, quando muito, o café ralo, o pão dormido, a farinha com água, e corremos direto para a lida, ofertando as nossas artérias para a sangria diária. 

Nesta quarta-feira cinza de julho de 2014, entorpecidos com as pedras de crack de nossa história, buscamos e rebuscamos os cantos da nação à procura do bode expiatório para a derrota do Brasil para a Alemanha: 7 a 1.

Luzia M. Cardoso  
RJ, 09\07\2014

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