Toda ação humana tem um objetivo, uma
finalidade, uma intencionalidade, no entanto, com liberdade limitada, tanto na própria
ação humana quanto na consecução de seus objetivos. Isso ocorre porque o ser
humano é um ser coletivo, um ser social, um ser em relação social. Assim sendo,
somos seres que encontra no outro o nosso limite, quando não encontramos a nossa
negação.
Considerando
a ação coletiva da humanidade, a intencionalidade individual, presente na
consciência de quem age, se restringe, na maioria das vezes, aos seus objetivos
e passos imediatos, perdendo os nexos com muitos de seus determinantes. Por
isso, a realidade do ser social se apresenta extremamente complexa, de forma
que nem tudo é como parece ser.
Desta
forma, não foram tão espontâneas nem, tampouco, acéfalas, as marchas de junho
de 2013, embora a face aparente assim nos fizesse crer. Contudo, a
intencionalidade começou a se revelar já na apresentação dos novos atores que
se fizeram conhecer nos anos subsequentes, quando um pato tomou a Avenida Paulista
e outras marchas invadiram orlas e ruas de bairros abastados, revelando, em seu
movimento e processo, que havia um velho e conhecido cérebro por trás de tudo.
As
marchas litorâneas que exigiram a queda da presidente da República alcançaram
os seus objetivos. Mesmo sem crime de responsabilidade, o impeachment foi
concretizado. Dando continuidade ao caminho lá traçado, congelou-se por 20 anos
os gastos com as políticas sociais. Na esteira, aprovaram a reforma trabalhista
e outros tantos projetos que ameaçam as reservas naturais e que retiram
direitos da população. Os velhos cérebros vão abrindo canais para o escoamento
além-mar de nossas riquezas e seguem tocando a pauta da reforma da Previdência
Social, com o mais antigo toma lá, dá cá, para manterem o poder nas mãos que
nos expropriaram a democracia.
Aumentam o tom
condenando Lula a cumprir uma pena que visa, antes de tudo, impedi-lo de se
candidatar às novas eleições presidenciais. Desafiam-no a retornar em seu
centenário, ao arremate do confisco de seus bens. Ao mesmo tempo, aos seus
semelhantes, mesmo com provas materiais incontestáveis de participação em
corrupção, asseguram-lhe o prêmio da delação, preservam-lhe a liberdade e o
patrimônio, como que se qualificando como delação a fala de corruptores e
corrompidos lhe assegurasse a veracidade. Para as esposas de uns poucos,
consideram insuficientes aquelas mesmas provas cabais que incriminam os maridos
e, a estes, embora incriminados, permitem o cumprimento da pena no conforto
luxuoso de seus lares.
Processos apodrecem
nas engavetas quando não são imediatamente arquivados, mantendo corruptores e
corruptos naqueles mesmos espaços de poder onde podem continuar obstruindo a
justiça, rescindindo na mesma velha prática, ilícita e daninha à nação. Os
velhacos mostraram a sua cara, transgredindo normas, limites, tomando conta de
espaços, tentando apagar o legado histórico do povo brasileiro e seguem tocando
a sarabanda.
Enquanto tudo isso
ocorre, as esquerdas, atônitas e acantonadas, permanecem marcando passo,
mantendo-se em parada cívica, na mesma praça, na mesma hora, na mesma avenida,
no mesmo ponto. As esquerdas brasileiras não chegam onde o povo está, não mais
o esclarece sobre o que acontece no país. São esquerdas high-tech que desconhecem
seu papel. Não panfletam mais em portas de fábricas, nos pontos de transportes
coletivos nem nos bairros de quem vive do trabalho. Desaprenderam a usar o
megafone, a fazerem, no corpo a corpo, o contato olho a olho. Letradas, estranham
a fala clara e objetiva que informa e forma. No máximo, as esquerdas
brasileiras chegam ao povo de forma tímida e no limite do alcance das redes sociais virtuais.
Passivas, as
esquerdas brasileiras aguardam. Vaidosas, elas se dividem, se destroem e creditam à
omissão das massas a desfavorável correlação das forças para mudar o processo. Como crianças que acreditam em fada do dente, mantém-se à espera de um milagre
nas eleições de 2018. Como se eleições democráticas pudessem caber dentro de algo
que essas mesmas esquerdas reconhecem ser um golpe.
Contudo, analisando as convocações contra as reformas e pelo retorno à normalidade democrática, ocorridas em 2016 e 2017, constata-se que foram tímidas, mas que, mesmo assim, milhares de pessoas responderam com o seu comparecimento em todos os cantos do país. Assim como ocorreu com as marchas de 2013.
Contudo, analisando as convocações contra as reformas e pelo retorno à normalidade democrática, ocorridas em 2016 e 2017, constata-se que foram tímidas, mas que, mesmo assim, milhares de pessoas responderam com o seu comparecimento em todos os cantos do país. Assim como ocorreu com as marchas de 2013.
O povo indignado e
que sente o espinho espetar-lhe a pele responde quando ouve o chamado. Sendo assim, não será a passividade das esquerdas que faz com que elas acreditem na inércia
das massas? Não seria uma espelhação, no sentido psicanalítico do termo?
Como que saídas dos
pinceis de Salvador Dalí, as cores são lançadas nessa nossa gigantesca tela
brasileira. Diante desse quadro surreal, se juntarmos Ari Barroso e Chico
Buarque, a conclusão óbvia é que sarabandam a Aquarela e Carolina, na janela!
Luzia M. Cardoso
(Texto e foto do grafite)
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