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sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Valores de Classe Média



Valores de Classe Média



De 2012 à consumação do golpe contra o Estado Democrático de Direitos brasileiro, nos deparamos, em nossas redes sociais, com insistentes postagens de calúnias à família de Lula, atribuindo a alguns de seus membros a propriedade da Oi, da Friboi entre outros. Na mesma linha, inúmeras outras atacam os programas de nossa Política de Proteção Social. Mensagens mentirosas e que levam os incautos a compartilhá-las, alimentando tanto a sua ira repulsiva aos segmentos mais pobres quanto a sua ignorante vaidade.

O marketing do golpe não poupa esforços em divulgar informações distorcidas a respeito do Programa Bolsa Família. Inventam que alimenta o ócio, a preguiça e que é estímulo à prole numerosa. Também distorce um dos benefícios da Previdência Social, o Auxílio Reclusão, que é de direito do trabalhador contribuinte.

Na verdade, o Programa Bolsa Família integra a política de Renda Mínima (mínima mesmo!!!), incluindo apenas aquelas famílias consideradas na linha da pobreza e da extrema pobreza, cujo teto é de R$ 170,00 per capita mensais, sendo que ter crianças ou adolescentes na faixa de 0 a 17 anos é um dos condicionantes para a inserção daquelas na faixa de R$ 85, 01 a R$ 170,00.

As Famílias da primeira faixa, inscritas no Cadastro Único e com as condicionalidades devidamente comprovadas, têm direito ao Benefício Básico, no valor atual de R$ 85,00 mensais. Famílias em situação de pobreza ou de extrema pobreza com crianças, adolescentes, gestantes e\ou nutrizes, têm direito a Benefícios Variáveis. Ou seja, R$ 39,00 mensais por crianças ou adolescentes de 0 a 15 anos de idade. O mesmo valor mensal destina-se à gestante e à nutriz. Havendo adolescentes de 16 e 17 anos, a família acessa o Benefício vinculado a essa faixa etária, no valor de R$ 46,00 mensais.  

No máximo, cada família poderá receber até cinco Benefício Variável, independentemente de haver mais moradores no mesmo perfil. Uma família em situação de extrema pobreza, com composição familiar de um ou mais adultos, gestantes ou nutrizes e de três ou mais pessoas na faixa de 0 a 17 anos de idade receberá, no máximo, R$ 269,00 mensais, quando atingida a renda familiar per capita mínima de R$ 85,00.  

Como o objetivo do Programa é retirar a família da situação de miséria e pobreza se, mesmo com todos os benefícios, a renda per capita familiar não chegar a R$ 85,00, estão previstas correções visando atingir o valor estabelecido. Com as condicionalidades de acompanhamento médico na rede SUS e frequência escolar, o Programa Bolsa Família visa garantir crianças e adolescentes na escola, a observância do calendário de vacinação, o acompanhamento pré-natal e o aleitamento materno, nada mais.

Já o Auxílio Reclusão é um benefício que integra o seguro previdenciário pago pelo trabalhador. Objetiva a proteção de seus dependentes caso, por algum infortúnio, ele venha a ser preso. Também há condicionalidades para o acesso a esse benefício: o trabalhador possuir a qualidade de segurado da Previdência Social; estar recluso em regime fechado ou semiaberto; o último salário de contribuição previdenciária deve estar abaixo de R$ 1.292,43; os filhos beneficiários têm que ter menos de 21 anos (exceto em situação de invalidez; a companheira comprovar união estável na data da prisão do segurado.

Há um cálculo para se chegar ao valor individual do Auxílio Reclusão, como há para qualquer benefício previdenciário. Esse cálculo considera a soma dos valores de 80% dos meses de contribuição, dividindo pelo mesmo número de meses. O valor encontrado será dividido entre os dependentes do preso. Em nenhuma hipótese esse benefício será de valor igual ou superior a R$ 1.292,43. O Auxílio Reclusão é pago pelo trabalhador contribuinte, não é uma benesse do Estado!

Todavia, segmentos de nossa classe média alimentam, compartilham postagens mentirosas e fazem coro às vozes de “isso tem que acabar”. No entanto, permissivos para com a fratura de caráter dos segmentos economicamente dominantes, se calam frente ao perdão de dívidas de grandes empresários e banqueiros, às vantagens pagas pelo Estado a magistrados, juízes, parlamentares, ministros, chefes de executivos, apesar dos altos salários. Não se indignam com o financiamento de mordomias às respectivas primeiras-damas e apartamentos funcionais aos seus empregados. Nessa distorção de valores, mantém-se omissos às licitações para jatinhos, ao leilão de cargos públicos, ao financiamento de emendas parlamentares para a base do chefe do executivo, considerando-as, talvez, como “excentricidades”.

Há os que concordem que, em nome da crise, sejam retirados R$ 10,00 do valor do salário mínimo; aumente-se a idade para a aposentadoria; congele-se o financiamento para a Educação e Saúde; extingam-se as universidades públicas. Parece que, para alguns segmentos da classe média brasileira, o que vale mesmo é o acesso ao quintal da Casa Grande!


Luzia M. Cardoso
(Texto e foto)

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