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sexta-feira, 1 de setembro de 2017

A Vara é de Pinto para Pinto no Lixo



A Vara é de Pinto para Pinto no Lixo


Os homens das cavernas brasileiras, criados para levantar o pau, expor o pinto e afogar o ganso, creem ter nascido com um pau para intimidar mulheres, crianças, gays e mesmo idosos.


Os homens das cavernas brasileiras não têm um órgão sexual que integra o seu corpo, unido no físico, mental e emocional, numa identidade una. A identidade dos homens das cavernas brasileiras é fragmentada: há um homem na cara e um outro escancara e avacalha ao sair das sombras do saco e se erguer entre as pernas.


Os homens das cavernas brasileiras concebem o pênis como algo à parte de si, como uma arma, empunhando-a sempre que visualizam sua vítima. Eles portam, na bainha das cochas, um cacete, um pau, uma espada, prontos para agredir.


Bichos soltos, são feras à espreita, prontas para atacar. Assim, o gozo dos homens das cavernas brasileiras não acontece no encontro consentido, pactuado, mas no constrangimento, na subjugação, na violação do outro.


E os homens das cavernas brasileiras estão em toda parte, em todos os cantos do país, em todos estratos sociais, credos, níveis de instrução, etnia, profissão, função, áreas, instituições públicas e privadas.

O corpo do outro, para os homens das cavernas brasileiras, não é sagrado e privado. Ao contrário, o corpo do outro, para esses trogloditas do Século XXI, é para ser tomado, apropriado, coisificado, profanado, transformado em objeto para a satisfação de suas taras.

Não importa, para os homens das cavernas brasileiras, a proibição, o limite, o não consentimento. Para eles, a lei é deles, feita por eles e para o seu próprio benefício. Nesse sentido, o espaço coletivo é também o seu espaço privado de exercício de seu tirânico poder. Não há limites para o seu gozo covarde e doentio.

Aqueles que mijam e cagam na nossa cara, concebem a si mesmo o direito de empunhar o seu membro, exibi-lo ameaçadoramente, invadir o campo, se apropriar do corpo de outros, ejaculando até se saciarem.

E se a exibição da vara é licita, se o seu gozo é público e se espalha a porra toda por aí, não há porque prender quem goza no pescoço, na cara, no colo, no corpo e nos espaços daqueles que não o consentiram.

Tendo a vara como lei, a espada nua, empunhada, melada e melando em coletivos e individuais, não é sequer um constrangimento, quanto mais, um estupro. 

Luzia M. Cardoso

2 comentários:

José-Augusto de Carvalho disse...


QUE TEXTO VIOLENTO, LUZIA!
PARECE-ME CLARO QUE ESTE TEU TEXTO É CONSEQUÊNCIA DE UMA REALIDADE TENEBROSA.
COMO SEMPRE FAÇO QUANDO TOMO CONHECIMENTO DE UMA SITUAÇÃO INSÓLITA, PERGUNTO: QUE CONDIÇÕES INACREDITAVELMENTE ADVERSAS PERMITIRAM/DETERMINARAM TAMANHA BARBARIDADE?
ABRAÇO SOLIDÁRIO, QUERIDA AMIGA.
jOSÉ-AUGUSTO DE CARVALHO
ALENTEJO * PORTUGAL

É Vivendo que se Vive disse...

Acredito que a atual conjuntura política leva a tal coisa, José. A permissividade da justiça para com as questões que envolvem governantes, parlamentares, empresários. A homofobia e a misogenia que está se fortalecendo por aqui.