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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O Tempo do Incenso





O Tempo do Incenso



É intrigante observar um incenso, antes e durante a sua combustão. Um simples bastão aromático, cuja confecção e uso atravessam séculos e culturas.  Uma vareta que reúne os quatro elementos da natureza: terra, fogo, água e ar.

        Muito usado em cultos, em meditação e higienização de fluídos de ambientes, ou simplesmente para aromatizá-lo, o incenso, ao queimar, espalha aromas.  O bastão queima vagarosamente, liberando a sua essência e cumprindo a sua finalidade.

         O incenso herda, em seu corpo material, a essência de flores, frutos, sementes, arbustos.  Aos olhos nossos, parece ter sido criado para consumir-se a si próprio, na compreensão de espiritualistas, tem objetivos além.  Contudo, na percepção de qualquer olhar, o incenso, ao ser aceso, segue queimando e passa de uma forma densa para outra, mais sutil, embora para os olhos que apenas olham, após queimar, restam apenas as cinzas.

        Enquanto apagado, o bastão tem seu perfume restrito ao local onde está guardado. Aceso, a fragrância se espalha por fendas e frestas, ultrapassa barreiras e, livre, segue além.

       Todo incenso tem um tempo, um tempo próprio, embora haja quem diga que se umedecido, levemente, antes de acendê-lo e cuidando de não deixa-lo em chamas, mas apenas em brasas, ele durará um pouco mais. 

      Se o tempo do incenso é determinado por quem o fabrica, definindo a sua espessura, tamanho e textura, quem o recebe fica responsável por garantir que queime ao seu tempo e, quem sabe até, por um pouco mais. 

      Quem recebe um incenso, mesmo que queira restringir o acesso ao seu aroma, não consegue, pois o perfume sutil, já ao ar, se expandirá, ultrapassando espaços.


Luzia M. Cardoso
RJ, 07 de Janeiro de 2013

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