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quinta-feira, 21 de maio de 2020

O Livro mais Marcante de Minha Vida

Fazendo o curso  "O Poder da Escrita", com Pedro Bial, como exercício, fomos solicitados a escrever sobre o livro mais marcante de nossas vidas. Compartilho aqui a minha história.




         O Livro mais Marcante de  Minha Vida

Foram três livros que marcaram a minha vida, ou melhor, que muito me impressionaram: O Príncipe, de Nicolau Machiavel; Fazenda Modelo, de Chico Buarque; Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach. Eles chegaram a mim nesta ordem e o primeiro que li, com menos de treze anos de idade, foi O Príncipe, de Nicolau Machiavel.

Pode parecer estranho para quem me ler o fato de um livro complexo desse ter despertado o interesse de uma menina daquela idade.

Posso explicar. Apesar de ter origem em família pobre, com pais semi-alfabetizado,  livros, folhetos e revistas acabaram vindo às minhas mãos.

Meu pai, embora de pouca instrução, adorava ler livros de bolso e tinha uma coleção que eu lia também, já que aqueles livrinhos ficavam ao meu alcance, talvez , devido à simplicidade de nossa casa e de seu mobiliário.  Eram livros de ação, de espionagem, de faroeste que prendiam a minha atenção até o derradeiro ponto final.

Éramos uma família de oito pessoas, contando com meus pais.  Eles tiveram cinco filhas e um filho e eu era a quinta na linha, com três irmãs mais velhas que adoravam revistas de fotonovelas e modas,  e que também lia. Ou seja, era uma leitora voraz e compulsiva.

Havia ainda um casal de tios muitos queridos com uma casa onde havia uma estante de mogno cheia de livros que me fascinavam. 

A estante em mogno bem lustrada, com prateleiras de livros encadernados com capa dura, alguns com  letras douradas, outros com letras prateadas... Ah, era um verdadeiro tesouro!

Íamos com frequência para lá, como eles também iam para a nossa casa. Nas ocasiões que íamos para a casa deles, eu ficava onde estava aquela estante e foi ela quem me apresentou O Príncipe de Machiavel. Sim, a estante.

Um determinado dia, as letras prateadas daquela capa dura me chamaram. Meus olhos curiosos e infantis foram fisgados pelo livro. Penso mesmo que naquele dia a estante se iluminou mais naquele canto onde estava o livro. O Príncipe não passaria desapercebido àqueles olhos de garota tímida e romântica.

Contudo, já ali, pude verificar que todo príncipe, um dia, vira sapo. Aquela estante me vendeu gato por lebre e Machiavel, bom sedutor, me conduziu até às últimas páginas.

Quantos príncipes fajutos! Que decepção! Foram os meus sentimentos página a página do livro.

Mais decepcionada ainda fiquei quando me deparava com as práticas usadas  para os príncipes se legitimarem no poder: terror, medo, força, opressão,  escravidão, traição, fraude, crueldade e manipulação de necessidades.

E a princesa? E o amor? Oras, concluía, a princesa só serviria ao príncipe para aumentar o seu império, o seu poder?

Aquela menina que fui caiu no conto da estante ou, talvez, sendo boa educadora, ela, a estante me revelava o lado sombreado da face dos príncipes.

Claro que não li o livro com os mesmos olhos que o li quando solicitada pela universidade e, tampouco, com os olhos da mulher que sou hoje. 

Não, à época, li O Príncipe de Machiavel com os doces olhos da menina que fora ensinada a sonhar com o príncipe encantado apresentado pelos livros das histórias infantis.

                               
 Luzia M.Cardoso


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