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sexta-feira, 2 de abril de 2010

o Mistério de Mr. Blue - Última Parte


No inicio da noite Scarlet havia se retirado espiritualmente do vilarejo, utilizando-se da prática do ioga para levitar. As emoções que experimentara durante aquele dia eram fortes demais para aquela amazona que não estava preparada para receber tamanha carga energética que lhe fora endereçada.

Ainda durante o transe, Scarlet sentira-se como tomada por uma forte luz que parecia ter vontade própria e que a guiava ... conduzindo-a a um amor inexplicável. Ela já não mais tinha controle sobre o próprio corpo, seus movimentos, seus desejos... Tinha a impressão de estar vivendo uma relação intergaláxica.

Estava assustada. O que acontecia? Por mais que tentasse uma explicação racional para tal sensação, não achava uma resposta que pudesse aceitar. Nada fazia sentido. Não controlava mais seus pensamentos, seus sentimentos... Ondas intensas de calor tomavam-lhe o corpo, abrasando-o completamente e estava bastante confusa...

Scarlet buscou reunir todas a suas forças... Tudo estava muito difícil para a amazona. Não sabia mais como proceder... Sua segurança foi embora...

A noite terminava chuvosa e Scarelt ficou a contemplar as gotas d'água escorrendo pelos vidros de sua janela. Apesar da chuva, podia notar a luz da lua que insistia em cintilar prateada, atravessando as nuvens carregadas. Esse cenário pegava para si o controle da vontade da amazona.

Guerreira, percebia que estava vencida... E pensava: tudo ocorrera após brincar com um cavaleiro desconhecido, de intensa luz azul, cujo corpo não sabia se era matéria ou brumas e que...

Scarlet precisava se restabelecer, pois desafiara Mr. Blue para um recital na Galeria Literária. Quando o fez, a moça apenas queria conhecer o enigmático estrangeiro, pois acreditava que ele se escondia e que era um escritor dos mais competentes e criativos. Não intuia só, ela o via, apesar de o mesmo ficar atrás da espessa fumaça que insistia em lançar.

Contudo, Mr. Blue, antes mesmo do duelo literário com a amazona, já tinha se socializado no vilarejo, mostrando algumas de suas produções e todos já o estavam admirando. Não havia mais, portanto, um mistério a ser desvelado. O próprio Mr. Blue, sabendo das intenções da amazona, tratou logo de desnudar-se.

Mas o colóquio estava marcado e todos aguardavam a ambos na Galeria Literária, logo no ocaso do dia que nascia. Scalert não poderia faltar. Ficara de apresentar um conto e já havia produzido parte dele, devendo, pois, finalizá-lo.

Que desfecho daria?

Durante todo o restante da noite, Scarlet se empenhava em terminar sua história. Sofria para combinar cada palavra e dar uma sequência lógica ao seu texto. De repente, por uma fração de minutos, acreditou ter recebido uma espécie de pedido... um apelo maravilhoso... irresistível... uma súplica... Achou que estava delirando, visto que sua temperatura já ultrapassava 39º.

Sim. A amazona ardia em febre, embora ela ainda não percebesse, pois estava entorpecida com a viagem e a relação extracorporal que  viveu quando tentou meditar. Além do fato de querer se desvencilhar, o mais rápido possível, daquele compromisso que ela mesma inventara. Tola! Pensava.

Scarlet relembrava cada detalhe do encontro com Mr. Blue: quando ele chegou  no Canto; quando caíra no bueiro e, sobre isso ela recebeu informações que ele havia conseguido escalar as paredes e sair sozinho. Evidentemente, pensava orgulhosa, após seguir as orientações que ela mesma tinha dado antes de sair em busca de ajuda. Lembrou que ficou enlouquecida quando deparou-se com o cavaleiro no vilarejo e que ele pareceu despi-la com o olhar. Foi nessa hora que, impulsivamente, o informou que ambos deveriam apresentar um conto na Galeria Literária até o final da tarde do dia seguinte, e que o leriam para a plateía. Mentiu quando lhe disse que naquele vilarejo todo recém-chegado deveria assim se comportar. Nesse momento, completou que ela mesma tomara a liberdade de marcar o dia e o horário do recital e que, para que não o fizesse sozinho,  ela se prontificou em apresentar também um conto de sua autoria.

Scarlet agora percebia que se deixou conduzir por seu temperamento desafiador. Talvez tenha feito isso por ter vontade de se aproximar daquele misterioso cavaleiro, que certamente lhe havia chamado a atenção. Ou talvez porque não soubesse como fazê-lo de forma diferente. Ou ainda porque tivesse medo que a ignorasse. Talvez... talvez...

Apesar das inumeras suposições que possam ser aqui levantadas, o certo é que Scarlet também assumiu um compromisso na Galeria Literária e teria que terminar o seu conto.

Enquanto relembrava a situação, vinha à mente da amazona um ditatado que ouviu algum dia: “Io no creo em las brujas, pero que ellas hay, hay”. E sorriu, diante do inevitável.

Scarlet resolveu sentar-se e terminar o conto... Depois de muitas horas e vários parágrafos deletados, ela conseguiu por um ponto final à história que escrevia. O dia já amanhecia e, por ironia, um céu azul límpido se revelava. A aurora brilhante invadia a casa da amazona e os primeiros raios de sol iluminavam o seu rosto. Abriu a janela e a brisa da manhã soprou-lhe pétalas de flores. Fechou os olhos e pôde senti-las percorrendo e deslizando suavimente por cada parte do seu corpo. Eram pétalas perfumadas e de flores diversas, de várias cores e que a envolviam num lindo arco-íris.

De repente, ao abrir os olhos, Scarlet viu que do meio do arco-íris de pétalas a cor azul se desprendia, materializando-se a sua frente, adquirindo a forma de um homem alto, magro, viril e que a conduziria ...

Fim

 

Por Luzia

 

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