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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sonho?

Raquel passava horas em seu pc, escrevendo os textos que depois seriam publicados em livros impressos. Mas, o tempo que permanecia frente ao monitor não se justificava apenas no trabalho. Não, não. As respostas estavam em outro lugar.
A primeira década do século XXI apresenta muitas mudanças.Tudo parece ser possível. E era justamente as perspectivas da ciência e da microeletrônica que mais fascinavam Raquel. E assim, num determinado dia, depois de fechar mais um de seus contos, Raquel pôs-se a fitar o monitor. Acessou a Internet. Entrou na mesma sala de bate-papo onde sabia que o encontraria. Raquel sentia uma virtual atração por esse moço, que parecia-lhe uma pessoa ensimesmada, triste, quieto... E isso a atraia.
Já na sala de bate-papo, não se manifestou, nem mesmo logou, ficou a  observar cada participante do grupo, inclusive o seu virtual platônico amor.
(- Nunca pensei nessas possibilidades afetivas, virtuais. Acho que nem Platão, já que preferia a contemplação... Mas, deixemos essas divagações de lado.Voltemos à Raquel.)
Estava, então, virtualmente na sala de bate-papo e, materialmente, diante de seu pc, fixando o monitor. A tela azul, a luz intensa, brilhante... Do outro lado, aquele que desejava encontrar.
Com o olhar cada vez mais atento, identificava cada ponto luminoso que dá forma a esse mundo virtual. Seu desejo crescia, tomando todo seu corpo. Sentiu um calor indescritível percorrer-lhe a medula. Um fogo subir pelas costas, até a nuca . De repente, como por mágica ou encantamento, seu corpo foi se transformando em feixe de luz. Uma luz azul, intensa, de luminosidade estonteante.
Radiante de alegria, Raquel logo percebeu as inúmeras possibilidades de formato que um feixe de luz pode adquirir, bem como a velocidade de seus movimentos. Não teve dúvidas, reduzida ao tamanho de um pixel, entrou pelo monitor, numa viagem louca, colorida e alucinante... Enfim, lá estava, frente a frente ao amado.
Espandiu-se, iluminando todo o seu rosto, cada parte de seu pescoço, ombros, nuca, descendo levemente por toda as costas... Aconchegou-se ao corpo do amado. Pode sentir o seu calor... seu perfume... as pulsações... a respiração ofegante... o suor que escorria...
Ele nada entendia daquelas novas emoções, mas deixou-se levar pelas ondas de calor e sensações luminosas a percorrer-lhe cada celula, cada músculo, cada membro...
Raquel já estava completamente fundida ao amado, que já não controlava mais os movimentos e as ondas  que corriam em seu corpo, e que se alargavam, dominando-o.
Raquel também não tinha mais controle de nada. Uma onda cósmica determinava todo aquele louco movimento, que aumentava como um oceano agitado, alternado com momentos de calmaria. Passaram horas nessa magia, quando, enfim, desfaleceram.
Com os primeiros raios de sol a descortinar a noite, Raquel levantou. Ainda esgotada pelo amor. Tentou juntar alguma força para refazer-se. Conseguiu organizar o pouco do que restou de seu etéreo ser. Logo correu, na velocidade da luz. Jogou-se, tonta e cansada, na tela do pc...
Desmaiou em sua cama, enquanto, do outro lado, o amado permanecia também desmaiado em qualquer outro lugar do planeta.
No dia seguinte, ambos acordaram felizes e refeitos tentando lembrar de cada detalhe daquele encontro que acreditaram não ter passado de um excitante e agradável sonho.

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