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domingo, 24 de maio de 2020

Reminiscentes Leituras: Contos de Andersen

Reminiscentes leituras: Contos de Andersen



Creio que ganhei o meu primeiro livro em meu aniversário de seis ou sete anos de idade. Por ter começado a ler cedo e ser vista sempre com algo escrito na mão, tinha fama de gostar de ler.

Aprendi a ler sem nenhuma dificuldade, certamente por que passei muitos anos como observadora  do processo de aprendizagem de minhas três irmãs mais velhas. 

Todas nós - a concordância aqui se faz com maioria, visto que só tive um irmão - fomos alfabetizadas em casa, por nossa mãe, na cartilha do ABC e pelo método de soletração.

Cada filho é um filho e, com seis, minha mãe pôde ver isso de perto. E se observar ajudou as filhas e  ao filho seguintes, as duas primeiras penaram. Penaram  tanto pelo pela novidade que se fazia obrigatória quanto por não terem tudo a chance de observar a aplicação do método em outras crianças e pelo fato de preceptora ter casa e outros filhos para cuidar, ou seja, tinha múltiplas funções.

Eu tive a sorte de ser a quinta na linha dos nascimentos e pude aprendendo a ler sem traumas.

E não foi  por minha genialidade ou mérito mas, como disse, pelos anos de observação. E foram muitos anos ouvindo "b" com "a" faz "ba"; "Paulo viu o pato".

Pato era forçado para uma criança urbana. Seria mais fácil se Paulo visse o pinto.

(- Não entendi a tua risada. Quanta malícia, hein? )

Em Madureira, onde morávamos e onde crescemos, não havia patos mas, as feiras e mercados vendiam pintos, muitos pintinhos. Quando íamos às compras com mamãe, não resistíamos àquelas fofuras. Assim, era frequente voltarmos tendo em mãos  um saquinho de papel pardo, todo furadinho para que a avezinha pudesse respirar dentro dele até onde lhe seria dada a liberdade.

Penso que seria muito mais fácil aprender a ler com palavras presentes em nossa realidade e que fizessem sentido para a gente. Contudo, nem tudo está - e nos anos 60 não estava - acessível a todos e, lá em casa, à época, aprendemos a ler com os recursos permitidos.

Como dizia, não aprendi a ler rápido por esforço meu, não. Nasci dez anos e dois meses depois da primeira filha de meus pais, uns nove anos depois da segunda e uns oito da terceira. Ou seja, fiquei longos anos observando.

Devido à minha fama de gostar de ler, uma de minhas primas já mocinhas - da geração de minhas três irmãs - me presenteou com um belíssimo livro de capa dura, tamanho A3, folhas brilhantes e todo ilustrado. Lindo!

Em minhas lembranças, quem me deu o livro foi a filha do casal de tios  e que tinha uma estante de mogno cheia de livros. Embora, às vezes, eu fique na dúvida se foi outra prima também mocinha, a Maria, filha de uma das irmãs de papai.

Imagina o quanto fiquei feliz com aquele presente. Eu havia recebido o segundo presente mais impirtante de minha vida e com o qual fiquei grudada.

O livro foi o segundo presente mais importante porque a Beijoca chegou muito antes, foi muito desejada, tanto por mim quanto por minha mãe, e era o meu xodó.

Foi naquele aniversário que conheci os Contos de Hans Christian Andersen. Havia, ali, naquele livro magico muitos contos para ler, um após o outro.

Descobri o sofrimento do Patinho Feio  com o bullying de seus irmãos. Quando o Patinho se descobriu lindo, entendi  que a beleza é subjetiva, embora adquira concretude nos valores de cada grupo social, de cada sociedade, de cada tempo.

O Soldadinho de Chumbo, A Roupa Nova do Rei, O Rouxinol e outras tantas lindas e sensíveis  histórias.

Mais que um livro eu tinha em mãos. Eu recebi permissão para voar ete um transporte com destino ao  mundo. Recebi o próprio túnel do tempo  com infinitas portas que, para serem abertas e acessar o que  elascelas guardavam bastava ir ao seu encontro, abri-las, entrar e descobrir.

E eu ia a elas, abrindo porta a porta, cruzando o espaço e desembarcando em outros países, em outras épocas. 

Quanta riqueza havia naquele livro e que carrego comigo. Um livro-baú cheio de jóias que não envelhecem e não podem ser roubadas jamais. Um verdadeiro tesouro!

Minha eterna gratidão, prima!

Luzia M. Cardoso

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