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sexta-feira, 29 de maio de 2020

Desencontro com Bial



Desencontro com Bial

Pandemia, funerais sem despedidas. Covas rasas alinhadas lado a lado. Valas e mais valas... Brasil de vinte e nove de maio de dois mil e vinte.

Um ano redondo, dois mil e vinte. Vinte e vinte, duplo vinte. Dois mais dois igual a quatro. Ano quatro na numerologia.

Que lições nos trazem os anos quatro? Mil setecentos e oitenta e nove foi um ano sete; mil novecentos e dezessete foi um ano nove; mil, novecentos e sessenta e quatro foi  dois; mil, novecentos e sessenta e oito, seis; dois mil e um,  três... Talvez a numerologia prefira silenciar.

Dois mil e vinte e milhares de mortos invisíveis para os que não querem ouvir. Mesmo assim,  chegamos à marca de vinte e seis mil, setecentos e oitenta e oito mortes. Hoje, na manhã de vinte e oito... Tantos oitos sugerirão alguma coisa? O número oito desenhado deitado, na horizontal, é o símbolo do infinito!? Prefiro não pensar.

Na contagem dos mortos, tiram de cá, empurram para lá e há quem se diga da fé que resolve afirmar que o vírus foi controlado. Esqueceram de combinar com o vírus, já que a linha do gráfico não dê sinais de que pretende descer.

Em relação aos métodos de controle brasileiros e o vírus, repetimos o placar da última Copa do Mundo no jogo com a Alemanha: sete a um para ela. 

Na numerologia, sete mais um é igual a oito. Novamente o oito! No ranking mundial da Covid-19, atingimos o topo, somos o novo epicentro.

Enquanto isso, hospitais de campanha ainda no papel, apesar das datas previstas nos contratos.  Governos de estado e municípios apresentando e executando planos de flexibilização da quarentena brasílis.  Havendo, ainda,  quem tenha decretado serem os templos religiosos serviços essenciais, autorizando a sua reabertura cultos.


"Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade."
Timóteo 2:1-2

O Poder da Escrita... Vale o escrito, a máxima do jogo do bicho lembrada por Pedro Bial em um de seus vídeos da web série de dez módulos vendido a mais de setecentos reais, com juros bancários nos parcelamentos.

Empresários nos levando a crer em sua solidariedade ao povo nos tempos de pandemia. E a tal web série foi ofertada a valor "promocional" de cinquenta por cento, também com juros bancários nos parcelamentos.

Em casa, tentando garantir o isolamento social, angustiada com a linha do gráfico da Covid-19 e cansada da rotina do trancamento, me inscrevi nas séries gratuitas. Vivenciei motivações e provocações interessantes enquanto isso, motivações e provocações, embora  a mercadoria não seja assim apresentada.  A web série se propõe a ofertar aulas com o objetivo de levar a escrever melhor.

A palavra aulas adquire nova conotação, nos tempos de hoje. A interação entre quem se propõe a ensinar e quem se propõe a aprender foi suprimida. Não mais uma linha de mão dupla. Agora, quem quer ensinar grava e quem quer aprender assiste. Tempos de modernos, uau!

Fico a pensar também sobre o que querem dizer com "escrever melhor", visto que não incluíram, entre os tópicos a serem desenvolvidos, nem regras gramaticais e de pontuação e nem técnica de redação.

Já inscrita e participando dos módulos gratuitos me vi diante dos exercícios propostos e... Ri. Os exercícios arrepiam qualquer professor atento aos métodos pedagógicos e à didática. 

Os exercícios deveriam ser compartilhados no grupo de Wathsapp. Os moderadores propunham a sua discussão no grupo, mas tal não ocorria. Na interação no grupo, os assuntos sempre tangenciavam.

Vejamos o porquê do tangenciamento. Apresento dois exercícios solicitados no segundo dia para que possamos pensar sobre o tempo necessário para a sua execução e o sentimento dos inscritos frente a eles:

- Identificar as possíveis relações entre o romance Adous Huxley, Admirável Mundo Novo, com a atualidade;

- Analisar Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski e Dom Casmurro, de Machado de Assis e elaborar uma história onde o enredo trate da influência da sociedade sobre o individuo, enfatizando o julgamento da sociedade.

Quase uma tese de conclusão de curso! A médio e longo prazos, uma boa proposta, mas para curto prazo, para o debate do dia seguinte, impossível, frustante. Daí o tangenciamento.

A participação no grupo de Wathsapp, no início, criava a sensação e a expectativa de proximidade com o famoso. Algo que não ocorreu. Os videos postados pelos moderadores foram pré-gravados. Haveria, no entanto, a ocorrência de uma live no terceiro dia.

Sobre esse terceiro dia cabe destacar: o dia da live com Pedro Bial. Uau!

Nesse dia houve muitas chamadas no grupo e em nossos e-mails, criando  uma grande expectativa. Mais de mil pessoas aguardando online. Anunciada para as dezenove horas, aconteceu mais de meia hora depois.

E eu me imaginava, enquanto professora, chegando em sala de aula mais de quarenta minutos da hora prevista para o início de minha aula. Uau!

Aluna ávida por conhecimentos, esperava que nessa live fosse apresentado o conteúdo do terceiro módulo.  Que frustração!

No transcorrer do dia, antes da live, quando abriram o grupo, não houve textos em PDF e, tampouco, os videos gravados por Bial.

Nos dois dias anteriores, havia um texto de cerca de onze páginas e dois vídeos gravados pelo jornalista: um apresentando o conteúdo do módulo e outro curto, fechando o dia.

O terceiro módulo se restringiu à live onde, nos primeiros minutos, Bial falou sobre a relação dele com a escrita, sobre a importância da leitura, sobre a sua falta de tempo de fazer prefácios de livros de terceiro. Em seguida, sugeriu que quem quisesse escrever sempre cortasse pela metade o que já havia escrito. "Corte!"

Depois, ficou a responder algumas perguntas a ele entregues pela administração e que não acrescentavam nada de relevante conteúdo do dia. Por fim, Pedro Bial dedicou o restante do tempo para vender o seu "curso", concluindo que estava valendo menos do que dois reais. Uau! 

O jornalista só não explicitou que são quase dois reais diários em dose meses e que multiplicados por cem inscritos daria um valor de hora aula nunca alcançável por um professor.

Talvez o que falte ao professor seja a fama, a possibilidade de, com sua imagem, vender mercadorias. A imagem do famoso vale mais do que o conhecimento e o método, enquanto o professor vivência a desvalorização do saber e da arte de ensinar.

A imagem vale mais do que mil palavras, já que todo escrito, nos tempos de hoje, é revisado e alterado. O escrito perdeu valor e a arte de ensinar se confunde com a técnica de coaching. A hora de um coach famoso vale muito mais que a hora aula de um professor de anos de estudos, prática no magistério e horas debruçado em métodos pedagógicos, elaboração de textos, aulas e exercícios a serem apresentados aos alunos.

Será que bastam motivações e provocações para levar alguém a escrever bem?

" Por isso, pela graça que me foi dada digo a todos vocês: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu."
Romanos 12:3


Nesses nossos tempos atuais onde um capitão da reserva interfere em protocolos médicos para tratamento de doenças, engenheiro-pastor dá pitacos em metodologias de apresentação de dados epidemiológicos, um jornalista se sentir professor está dentro do contexto.

Luzia M. Cardoso




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